No mundo em que vivo
poesia não é mais necessário,
flores
são somente formas toleráveis.
Talvez por isso seja tão urgente
que perpetre poesia,
que irresponsavelmente plante cores.
Com a futilidade frágil de uns versos
insisto contra a sólida imagem
de coisas brutas que venceram
e cuja impermeável razão de ser
forma o alicerce de minha casa.
Pensem nisso se me virem por aí,
falando só, olhando vago.
Estarei meditando meu próximo atentado
contra a cinza escuridão que me enxerga
e que envergo
como um terno de defunto que me deram.
Tenho sido muito ignorado, tenho ouvido.
Por isso é que às vezes falo de mim mesmo,
por isso muito às vezes me dirijo ao espelho.
No mundo em que vivo
o amar está desconstruído
e eu estou desajustado.
Talvez por isso eu peque tanto
com essa volúpia dos detidos.
Desde que me vi diante do muro
a minha atividade solitária se resume
a sonhar com flores e com livros.