Não, esse artigo não tem por objetivo ofender ao nosso mais vendido escritor. Isso eu faço em outro texto. Nem poderia porque uma pessoa bem-sucedida e talentosa como ele não deve se sentir atingida pelas críticas feitas por qualquer zé-ruela. Mesmo assim, pedindo licença ao digníssimo acadêmico, se estiver lendo essa bosta aqui, vou destilar um pouco de meu veneno. Não contra ele, mas contra quem o usa como escudo para o desleixo.
Paulo Coelho ficou famoso e vende muitos livros no mundo inteiro apesar de ser contestado como um artífice pouco competente no manejo das palavras. Algumas pessoas acham que, no entanto, ele obteve seus resultados por ser pouco competente no manejo das palavras e buscam reproduzir, por estilo, aquilo que o próprio Paulo Coelho, ao longo do tempo, tem buscado aprimorar, deficiência que é.
São muitos os escritores de bom talento que, por razões que me recuso a especular, abandonaram a busca da qualidade, deixaram de lado a preocupação estética que é o cerne mesmo da literatura, e passaram a adotar um estilo a que chamam de “direto”: termo eufemístico que empregam para definir a pobreza de seu texto em várias dimensões.
Alguns dizem que a narrativa é o que importa, e em nome de tal ideologia pensam que conjugar corretamente os verbos não importa. Assim, no emaranhado de tempos verbais mal empregados a ação fica difícil de se enxergar, nublada que está a sintaxe pela incultura das flexões. Dizem que a ortografia é uma imposição, uma ditadura, uma forma até de preconceito linguístico contra a “fala do povo”. Em nome de tal revolução, nem optam pela língua padrão nem aderem à língua do povo, ficam no meio-termo incompetente que é a língua padrão mal empregada, contaminada por aspectos da linguagem popular que, quando despontam de forma inadvertida em um texto formal, não são outra coisa que não solecismos.
Muitos destes rebeldes que elegeram nossa humilde língua como sua inimiga não têm nenhuma vergonha de eventualmente censurar alguém que escreve alguma coisa errada em inglês: exibem sua proficiência adquirida em cursinhos elitistas para humilhar quem mal sabe a língua estrangeira. Não tem a mesma ênfase em cultivar a língua sua. A língua estrangeira, em sua prática, não segue a mesma prédica que aplicam à língua pátria: por alguma razão preconceituosa que não alcança, falar inglês errado é erro, falar português errado é ser popular.
E o que tem o pobre Paulo Coelho a ver com tudo isso? Nada. Paulo Coelho nunca ideologizou suas limitações. Nunca transformou seus erros em discursos, se bem que tampouco os admitiu abertamente — no que está apenas seguindo uma estratégia de não desvalorizar o próprio produto: cabe ao leitor saber o que lê, não é o próprio autor que deve desaconselhar o livro que escreve.