Pode-se viver de amor,
mas principalmente morrer.
Não faz bem pensar assim,
mas é uma verdade que treme
quando o homem se consome
pensando em pesos contrários
e sentimentos marcados.
O amor foi uma verdade
durante séculos de mito,
hoje é um amargo apenas
la língua de quem beijou.
Fala-se dele como do morto
parente que um dia se amou.
Pode-se viver de amor,
mas principalmente está morto
o amor de que se vivia
no tempo em que era fácil morrer.
Por isso apague aquele poema
que escrevi com romance
na alma embebida de sonhos,
contaminada de música.
Por isso não toquem de novo
estas notas irreais.
Cada canção que ouço
me sabe a fingimento:
odeio frutas de plástico,
odeio canções de amor falso.
Pode-se viver de amor,
dá muito dinheiro escrever isto.
Mas esta renda é inútil
para manter viva a chama.
Esta verba não tem afeto,
esta canção é um produto.
Falemos de outras coisas,
não há mais amor nesse mundo.