Sou um dos sonhadores derradeiros,
talvez o último a fazer sentido,
embora seja o que menos me interesse
e o que tem menos horas ou motivos.
Tenho tentado dormir pouco,
mas as imagens me alcançam acordado:
lembranças de lugares a que não fui,
pessoas que nunca conheci.
Sou do tipo pior dos sonhadores,
os que dedicam seu sonhar unicamente
a espécies de sonhos que sempre fenecem
diante do dia claro,
a espécies que só sobrevivem no silêncio da cama
e nem são perfeitamente transpostas ao papel.
Sonhos que não são herbívoros e nem cruéis:
apenas sonhos frágeis e herdados de outra era
em que ainda era costumeiro ser feliz
e ainda não haviam inventado
essa raivosa tristeza que comanda-nos a todos
a viver o tédio com volúpia e violência.
O meu tipo de sonho é do pior que existe
pois em vez de sonhar com o futuro ou passado
eu sonho saudades de quando sonhávamos.