O que fizemos foi muito belo,
mas foi uma loucura sem sentido.
O sonho é uma peçonha aparecida
apesar do que somos nas manhãs.
Estávamos lá entre coqueiros e sol,
bonitos e molhados de mar,
e até a porca que passou na praia
mereceu entrar em um poema.
— Mas como foi sem sentido,
se sentimos tanto não ter sido eterno?
Aquela noite ganhou cores,
aqueles dias ficaram sólidos na alma
e ainda hoje o teu perfume purifica-me.
O que eu sei de sentidos é pouco,
só tenho umas opiniões precárias.
Sei que onde há motivos e houve sonhos
nunca nada é realmente dado,
tudo é conseguido, tudo pesa.
E somos compradores e cambistas
de ilusões na feira do que não virá.
Compramos barato e sem embrulhar,
depois notamos que não há mercado
para o que não queremos mais.
Então abandonamos
e restam as lembranças na parede
— da alma, não da casa.