Estou de férias. Finalmente. Bem, talvez não exatamente: na semana anterior ao merecido descanso anual (este ano eu fiz bastante por merecer) eu estou aqui em Juiz de Fora, hospedado num bom hotel, participando de um curso que, contrariando minhas expectativas construídas à custa das experiências anteriores, está sendo bastante interessante.
Como sempre, a oportunidade de estar em uma metrópole sinaliza com a oportunidade de fazer compra$! E é nessa hora que eu descubro que já fui rico.
Houve uma época na minha vida em que eu não achava nada caro. Eu cheguei a dizer certa vez a uma mulher com quem saía, pelas primeiras vezes, que «gasolina é barata». Naquele momento de minha vida eu tinha um guarda-roupa de artista, um carro do ano, calçados da moda. Tinha também dez ou doze anos a menos e uma vesícula biliar e dois dentes a mais.
Hoje eu não consigo mais andar tão bem vestido, meu carro tem cinco anos de uso e eu tenho trinta e sete janeiros acumulados. Não me sobra dinheiro para esses luxos, não me sobra, principalmente, o luxo de ter vinte e cinco anos de sonho e de sangue e de América do Sul.
E refletindo sobre isso, notando que eu não estou ganhando significativamente menos do que ganhava há dez anos (dia desses eu achei uns contracheques velhos jogados lá em casa), eu me dei conta de que você fica mais pobre à medida em que envelhece, mesmo que vá passando a ganhar mais.
Você fica mais pobre porque tem menos órgãos no corpo (cortados e jogados fora em nome da preservação dos que ficam), tem menos anos de resto para desperdiçar, tem um monte de responsabilidades, tem mulher e filhos.
Quando a sua vida não mais lhe pertence inteiramente, você se torna mais pobre. Quando você passa a pensar em mais alguém, você não consegue ser tão louco — e só os loucos são felizes. Minha pobreza aumenta à medida em que vou realizando etapas de minha vida, à medida em que me torno pai de família, profissional, escritor. Cada vitória destas me rouba alguns meses ou anos, e a cada instante eu tenho menos disso para gastar.
Está na hora de começar a escolher muito bem onde investir a riqueza que me resta, antes que a miséria me apanhe sem nenhum patrimônio.
Rico em experiência, meu amigo!
De todos os seus escritos que já li, que afinal não devem ser muitos em relação ao número deles que você já publicou, este é o que mais gostei. Tem bom humor e leveza… rsssss