Poucos temas em literatura são tão abertos e fascinantes quanto a ficção científica pós-apocalíptica. Basicamente você tem o direito de «passar a régua» no mundo e reimaginar tudo a seu bel-prazer, dentro de certos limites (bastante amplos). O fato de tanta gente que faz isso ter exatamente a mesma ideia, de um Mundo Mad Max com baratas radioativas, é só falta de imaginação mesmo.
Dia desses, debatendo sobre o tema, eu tive essa «viagem alucinógena» sobre como seria a sociedade do futuro se após a extinção do homem algum tipo de pássaro canoro evoluísse de forma inteligente. Deu até vontade de escrever a história.
Eu imagino que o tipo mais extraordinário de ser que poderia evoluir para uma forma inteligente seria uma ave. Para isso, claro, teria que reposicionar e modificar suas asas, mas um passaroide inteligente seria uma criatura fascinante.
Dotado de penas, teria pouca necessidade de fabricar roupas e ditar moda. Uma criatura destas provavelmente não teria artes plásticas e nem regras de «decência» como nós as imaginamos.
Ovíparo, ele teria uma série de outras preocupações envolvendo a sua prole que nós nem sequer imaginamos. Os testes de DNA do programa do «Pardalzinho» (equivalente passeriforme do Ratinho) não envolveriam somente a dúvida quanto ao pai, mas também a mãe. Sem a gravidez, o papel social da mulher seria compartilhado com o do homem e possivelmente a sociedade seria muito igualitária.
Capazes de falar e cantar simultaneamente, suas línguas não envolveriam apenas sequencias de fonemas, mas também de sons musicais. Eles literalmente falariam através de canções. Inteligência desenvolvida e uma vida social complexa exigiriam que sua «fala» deixasse de ser simples como o canto de um bem-te-vi e adquirisse muito mais complexidade — talvez até polifonia.
Eles provavelmente se alimentariam de comida crua, devido a possuírem bico e moela. Isso significa que a arte da gastronomia seria desconhecida, bem como boa parte dos ritos sociais a ela relacionados.
Se não teriam artes plásticas, teriam altamente desenvolvida a música e a literatura (no fundo uma só coisa) e a dança teria sempre um cunho erótico.
Sem a pressão da frio e do alimento cru, eles só criariam uma civilização se tivessem que enfrentar algum tipo de desafio diferente. Imagino que a guerra seria esse desafio: diferentes espécies de passaroides competindo entre si resultaria em pressão evolutiva para que aperfeiçoassem a linguagem, para aperfeiçoar a estratégia militar e as habilidades manuais (para melhorar sua capacidade de coletar comida e também de agredir).