Estou chegando à conclusão de que a literatura tornou-se a principal inimiga da educação. Esses livros de são perigosos demais para serem manuseados por nossas crianças, eles portam a pestilência de um passado que não foi perfeito, de uma história que foi feia. E isso traumatiza as crianças, não podemos contar-lhes que o mundo é feio, elas precisam crescer sem esse confronto para não se transformarem em cidadãos como eu e você, que crescemos em contato com essa sujeira existencial. O acesso deve ser cuidadosamente controlado, sabe-se lá que estrago um Machado de Assis, um Monteiro Lobato ou um Euclides da Cunha pode causar num jovem impressionável!
Nenhum literato do passado ou do presente é um modelo desejável para nossa juventude. Oswald de Andrade era mulherengo e alcoólatra. Machado de Assis era um negro que não pegava em armas contra a polícia para combater o racismo e nem processava o governo pedindo cotas —- e ainda por cima cometeu o acinte de se casar com uma branca! Euclides da Cunha era um machista empedernido que morreu num episódio mal esclarecido. Monteiro Lobato era racista, manipulador e adepto de várias outras ideias ultrapassadas. Jorge Amado traiu o comunismo e foi escrever novelas para a Globo.
Deixar que esses homens depravados e suas obras decadentes continuem influenciando gerações de jovens é um crime. A literatura burguesa e seus valores representam a perpetuação do atraso de nosso país. Somente poderemos progredir educacionalmente se abolirmos estas leituras sórdidas e evitarmos o contato de nossos jovens com o preconceito e os valores antiquados por elas representados. Onde já se viu construir um romance inteiro em cima do tema da “honra” da mulher e de uma suposta traição. Aquele porco chauvinista do Bentinho não pode inspirar nenhum jovem de hoje a achar que tem direito exclusividade sobre sua mulher. Imagine o efeito catastrófico que “O Alienista” pode ter! Imagine uma geração inteira de jovens desconfiados da autoridade e da ciência! E “Os Sertões”, então? Com sua perigosa sugestão de que as forças do atraso (superstição, monarquismo) estavam “certas” em sua luta contra a República e os valores modernos. Como permitir que nossas crianças leiam as obras do cínico racista, o Monteiro Lobato? Como deixar que tão precocemente tenham contato com o preconceito de cor? O que se quer com isso? Será que nossas crianças precisam de saber certas coisas?
Acredito que está mais do que na hora de levarmos adiante o que começou Rui Barbosa. O ilustre jurisconsulto baiano mandou queimar os documentos sobre a escravidão que havia no Arquivo Nacional. Acho que está na hora de banir — e se possível queimar — os livros de nossa literatura que contenham qualquer traço indesejável, inclusive racismo. Somente assim poderemos assegurar que as futuras gerações, limpas das sujeiras do passado, poderão crescer puras e saudáveis. Uma nova raça brasileira para uma nova pátria, livre dos males passado e mirando em um futuro grandioso.
Claro que para o lugar desta literatura banida deverá ser criada uma outra, pois sem obras literárias não se mantém um sistema educacional. Mas estas novas obras não podem surgir deste acaso criminoso que, no passado, permitiu que homens desequilibrados e doentes com os preconceitos e superstições de sua época produzissem excrescências como “Caçadas de Pedrinho” ou “Gabriela, Cravo e Canela”. Estas novas obras precisam seguir padrões pedagógicos progressistas e realistas. Padrões que incluam a igualdade de gênero, a igualdade racial, toda uma série de igualdades em substituição ao caos de categorias e hierarquias que caracterizava os valores do passado.
Os autores que aceitarem produzir segundo estes cânones, evidentemente, serão sempre os preferidos para inclusão nos currículos. Os prêmios literários oficiais serão dirigidos a eles também. Como não estamos em uma ditadura, obras divergentes serão toleradas, mas apenas para adultos e de forma nenhuma terão curso no sistema educacional. Como o governo não tem condição de fiscalizar toda a produção literária nacional, seria ideal que os próprios autores interessados nas diretrizes literárias do MEC se organizassem para controlar entre si mesmos a adesão aos referidos princípios, recomendando as necessárias adequações, quando possíveis, antes que o livro tenha que passar pelo crivo do Ministério.
Assim agindo, conseguiremos remover definitivamente de nossa sociedade a influência funesta de obras literárias inçadas de preconceitos e valores retrógrados, abrindo caminho para a criação de uma nova safra de obras, orientada ao futuro e produzida de acordo com os valores de sociedade que almejamos.