Apareceu de repente um barui estrãe no motor do caminhão, chamano a atenção do Remundo, que cochilava no banco de carona pro Jailso dirigir. Tava de madrugadinha e era lua minguante, num dava para ver nada no escuro daquele fim de mundo.
— Jajá, para o caminhão.
Encostar ali era perigoso: ês tava no meio do nada, estradinha de terra. Canavial dum lado e dotro. Não tinha nenhuma luz de cidade apareceno no céu.
— O que foi, Mundim?
— Um barui no motor.
— Não escutei nada, ocê tá bêbo.
— Parece que tem um trem quarqué atrapaiano o motor a girar.
— Tem nada. Iss’ é besteira de caminhonero bêbo.
Mas o rai do barui tava lá. Remundo tamém escutô e ficô co os cabelo rupiado da nuca até a bunda. Porquê num era no motor coisa nenhuma, era arguma coisa no meio do canavial. Mas o motor tamém tava estrãe.
— Né não, Jajá. Me chama de Richarlyso se não tá aconteceno alguma coisa.
Descero então e pegaro as chave de fenda. Abriro a tampa do capô da F-150 e ficaro olhano com a lanterna, procurando um trem quarqué solto que fizesse o barui.
Então escutaro um ruído quase que não dava para ouvir, assim como os pezim duma galinha correno. A nuca do Jajá rupiô de novo e ele virô assustado como se alguém tivesse enfiado gelo na carça dele. Pela estrada afora, na luz do farol, ia umas pegada esquisita, que sumia na curva.
— Tá veno isso, Mundim?
— Olha, nem sei o que é, mas vam’ ‘bora daqui!
Montaro os dois, apertaro os cinto e ligaro o motor. Nos matagal em volta da estrada se oviu um bater de asa que parecia revoada de morcego saino do inferno.
— Jajá, acabei de pensar. As pegada vão para lá…
— Cõ efeito, Mundim, deixa de ser medroso.
Aceleraro com força. Poquim depois da virada da curva, um par de zói vermei apareceu no mei da estrada, encarano os farol.
— Ai Santa Mãe de Deus, um lobisome!
Jajá tentou frear, mas já tava muito em cima. O bicho foi na grade, fazendo um barui seco, como uma explosão de pedrera lá longe.
— Será que matamo o demõe?
— Vam’ descer e ver.
De fato mataro, só que não era nenhum demõe, mas uma pobrezinha duma capivara, gorda que só ela.
Os dois começaro a rir da bobiça enquanto examinav’ os resto da bichinha. Uma capivara, cês sabe, é mais ou meno um ratão cotó grande e cabeludo.
Enquanto ês tava lá rino de alívio, nem viro a sombra grande do disco voadô que subiu do meio do canavial, quietim, e sumiu céu acima, sem ês ver.
Ah! Finalmente li este conto…
Apesar de ter estranhado a forma pouco… “ortodoxa” de narrativa, gostei bastante.
É curto, mas tem a medida certa para o que se propõe.
Acho que consegui criar uma imagem muito interessante a partir da descrição do momento, das falas, do acontecido.
Gostei bastante JG 🙂
Abraço!