Cada vez que acho um poema perdido numa gaveta ou num arquivo virtual amarelado pelos bits do tempo, convenço-me mais de que nunca fui realmente poeta. Fazia versos: não é a mesma coisa. Poeta é alguém que consegue escrever de vez em quando três ou quatro linhas que embasbacam até quem não sabe o que é poesia. Eu nunca fui desses, então nunca fui poeta.
Tenho mais de 1200 páginas de poesia devidamente escrita e catalogada, dolorosamente catalogada e editada ao longo de vinte anos. Foi escrevendo tudo isso que eu me fiz como gente. Foram anos de tentativa e erro, de aprendizado. Se escrevo algo que preste hoje, agradeço a ter tentado ser poeta, mesmo sem nunca ter sido. Mas vamos ser sinceros: meus melhores poemas dariam ótimas reminiscências em prosa inseridas em contos, crônicas ou qualquer outra coisa que não seja feita em versos.
Então tenho de cometer este ato de pública contrição: meus versos são umas porcarias. Não vou mais publicar poesia nenhuma em vida: o que escrevi ficará para as obras póstumas. De vez em quando vou incomodar os meus leitores com algum poema aqui no blog, claro, mas apenas porque postar poesia ruim é uma maneira de testar a fidelidade deles: os que não suportarem, é porque não gostavam suficiente de ler o que escrevo.