A tristeza deste século que chega
será de não haver mais horas mortas
e nem fantasmas nelas.
Um mundo iluminado, limpo e organizado,
sem espaço para transgressões.
A melancolia será subterrânea e todos acuados,
teremos de ter e de ostentar.
Os seres tristes sorrirão também
e se atracarão às luminárias
em busca de pé no remoinho.
A agonia que haverá na nova era
será o som do mundo ininterrupto
acima da perspectiva do infinito,
mais forte que o pulsar dos corações.
Um mundo preenchido, pleno e certificado
onde a insatisfação será um problema secundário
diante da impossibilidade evidente
de ouvirem nossos gritos.
Os seres tristes somente poderão
soltar-se numa alegria fingida e sem sentido
e dançar para não mostrarem o que são.
A repressão que espera na esquina
será a ausência de ouvidos.
Será estar na praça do infinito
lendo um romance de cavalaria.
O mundo ritmado funcionará ainda
e todos seguirão o enterro de seus dias,
como relógios, inconscientes das horas.
A solidão nos Belos Tempos será somente
delinear um pensamento e descobrir depois
que a solidez de um momento é ilusão.
Como a bolha de sabão que sobe
para estourar contra a vidraça.
Nós passamos e não deixamos traço,
e não voamos, a não ser cá dentro.
E parece haver além beleza e umidade,
mas o breve instante que pensamos
não é bastante que o vento nos carregue:
o homem é uma bolha de sabão que sonha
e não há janela aberta e nem vento.