Tenho pouca paciência com as coisas grandes.
Minha vida é tão pequena, e o mundo também.
Tantas coisas grandes só servem para espremer-nos,
Obrigar-nos, coagir-nos.
Uma das vantagens de se fazer versos
É que quando as linhas ficam assim,
Umas encima das outras,
Você pode dizer pequenos absurdos
E as pessoas leem com seriedade.
Os grandes absurdos, porém, estes não,
Não cabem nas linhas curtas dos poemas.
Para estas obscenidades que matam e que ferem
São necessários ensaios e romances.
Deixem em paz, portanto, os poetas.
Os pequenos poetas.
Jardineiros de ideias brotadas cedo,
Pastores de si mesmos.
Não venham zombar dos poetas
E seus pequenos abusos
Contra a ordem sobrenatural das coisas.
Preocupem-se primeiro
Com as coisas grandes e graves.
Especialmente aquelas que nascem
De gente que nunca escreveu poesia.