Um a um, nas noites precedentes à cerimônia de adoração, os companheiros de Evagh sumiram. O último polariano foi o seguinte, e então eis que somente Evagh, Ux Loddhan e Dooni foram à torre, depois Evagh e Ux Loddhan foram sozinhos. O terror aumentava diariamente em Evagh, pois ele sentia que a sua própria vez estava próxima e ele teria pulado de uma das rampas mais altas de Yikilth até o mar se Ux Loddhan, ao perceber sua intenção, não lhe tivesse advertido que nenhum homem poderia sair de lá e viver outra vez sob o calor do sol e respirar ar terreno, depois de ter sido habituado ao frio e ao fino éter. E Ux Loddhan, ao que parecia, estava totalmente alheio ao seu próprio destino e ansioso para para perceber o significado esotérico do volume crescente do verme branco e do desaparecimento dos magos.
Então, quando a lua diminuíra e escurecera totalmente, eis que Evagh compareceu diante de Rlim Shaikorth, com infinito receio e passos lentos e enojados. E ao entrar no domo, mantendo os olhos baixos, ele se viu o único adorador.
Uma paralisia de medo o subjugava enquanto ele jurava obediência e ele mal teve coragem de erguer os olhos e contemplar o verme. Mas tão logo começou a executar os genuflexões costumeiros ele percebeu que as lágrimas vermelhas de Rlim Shaikorth não mais caíam nas estalagmites violáceas, nem havia mais o som que o verme fazia ao abrir e fechar perpetuamente a sua boca. E arriscando olhar para cima, Evagh contemplou o corpo abominavelmente inchado do monstro, cuja largura era tal que ultrapassava as bordas do divã. E viu que a boca e as órbitas de Rlim Shaikorth estavam fechadas como se dormisse e então se lembrou dos magos de Thulask que lhe haviam dito que o verme dormia um tempo durante a lua nova, o que era algo de que se esquecera temporariamente por causa do medo extremo e da apreensão que sentira.
Então Evagh ficou dolorosamente confuso, pois os ritos que aprendera de seus companheiros somente podiam ser executados apropriadamente quando as lágrimas de Rlim Shaikorth caíam e sua boca abria e fechava em alternância regular. Ninguém lhe instruíra quais ritos eram devidos e adequados durante o sono do verme. Presa de grande dúvia ele disse suavemente:
— Estás desperto, ó Rlim Shaikorth?
Em resposta ele pareceu ouvir uma multidão de vozes que saíam obscuramente da massa pálida e túmida diante de si. O som das vozes era estranhamente abafado, mas entre elas se podia distinguir os sotaques de Dooni e Ux Loddhan, e havia um denso murmúrio de palavras estrangeiras que Evagh reconheceu como a fala dos cinco polarianos. E abaixo destas ele captou ou pareceu captar, inumeráveis outros tons que não eram os de vozes de homens ou feras, nem os sons emitidos por demônios terrestres. E as vozes se ergueram e clamaram, como as de um bando de prisioneiros acorrentados em uma masmorra profunda.
Então, enquanto ouvia em horror inefável, a voz de Dooni se articulou mais alta que as outras, e o múltiplo clamor e murmúrio cessou, como uma multidão que se cala para ouvir seu próprio porta-voz. E Evagh ouviu a voz de Dooni dizer:
— O verme dorme, mas aqueles que ele devorou estão despertos. Terrivelmente ele nos enganou, pois veio a nossas casas à noite, devorando-nos corporalmente, um a um, enquanto dormíamos sob o encantamento que ele lançara. Ele comeu nossas almas tanto quanto nossos corpos, e agora somos realmente parte de Rlim Shaikorth, mas existimos em uma escura e fétida masmorra e quando o verme está acordado não temos consciência própria e ficamos totalmente imersos na essência ultraterrena de Rlim Shaikorth.
Ouça, então, ó Evagh, a verdade que aprendemos em nossa unificação com o verme. Ele nos salvou da morte branca e nos trouxe a Yikilth para esse fim, porque somente nós, entre todos os humanos, feiticeiros de grande conhecimento e habilidade, poderíamos sobreviver à transformação gelada e letal e nos tornarmos respiradores do vácuo e assim adequados, por fim, à alimentação dos que são como Rlim Shaikorth.
Grande e terrível é o verme e o lugar de onde vem e para onde retorna não é para ser imaginado por homens vivos. E o verme é onisciente, exceto que não sabe sobre o despertar daqueles que devorou e sua consciência durante o seu sono. Mas o verme, embora mais antigo que a antiguidade dos mudos, não é imortal e é vulnerável em um particular. Quem aprender a hora e os meios de sua vulnerabilidade e tiver coragem de executar tal ação poderá matá-lo facilmente. E a hora para tal ato é durante seu turno de sono. Então nós lhe imploramos agora, pela fé que temos nos Antigos, que desembainheis a espada que trazes sob teu manto e a mergulheis no lado de Rlim Shaikorth, pois tal é o método para matá-lo.
Somente assim, ó Evagh, o prosseguimento da morte pálida poderá ser obstado e apenas assim podermos nós, teus companheiros em feitiçaria, obter nossa libertação da servidão cega e do encarceramento eterno, e conosco muitos que o verme traiu e devorou em eras passadas e em mundos distantes. E somente fazendo isto tu escaparás da sombria e asquerosa boca do verme, não tendo de habitar para sempre como um fantasma fugidio entre outros fantasmas nas trevas malignas de sua barriga. Mas saiba, porém, que aquele que matar Rlim Shaikorth deverá necessariamente morrer ao fazê-lo.