Vou tentar de novo explicar minha posição sobre autores brasileiros que escrevem obras ambientadas no “estrangeiro”, porque as pessoas acham que eu, muitas vezes, a expresso de forma preconceituosa contra os novos autores.
O exotismo é uma possibilidade, mas não é uma necessidade. Se você acha que vai ficar legal escrever uma obra ambientada em outro país, vá fundo. Só vai ser problema se ficar ruim. Mas se você acha que “deve” ambientar sua história em outro país por algum motivo, então aí tem alguma coisa errada. Especialmente se esse outro país for, como é quase sempre, os Estados Unidos ou a Grã Bretanha.
Olhar para outro país ao escrever é um desafio interessante da escrita. Mas se muitos olham para o mesmo país, deixou de ser uma opção do autor e passou a ser um modismo. Na arte, os “modismos” costumam parir obras repetitivas.
Outra coisa problemática é se, antes de pensar em escrever, o autor já pensa em escrever ambientado em outro lugar. Eu sei porque passei por isso, minha primeira obra de ficção foi um mini-conto em que um nobre da Transilvânia, de língua germânica (chamava-se Dieter), chegava a um hotel de Paris, na virada do século. De onde tirei isso? Dos filmes de vampiro que eu adorava assistir.
Eu comecei assim, errado. Sei que muitos começam também. Nossa cultura está doente. E o primeiro passo da cura é o doente perceber que está doente.