Este artigo é uma análise dos tipos de narradores com que me deparo nas obras que leio nesta vida (a única de que me lembro). Não é uma classificação acadêmica e nem obedece aos critérios da teoria literária, mas se serviu para mim, talvez sirva a você que me lê, na hora de tentar entender o livro que está lendo.
- Quanto à pessoa narradora
- Primeira pessoa — não necessariamente protagonista da história.
- Segunda pessoa — dirige-se ao leitor, quebrando a quarta parede, ou dialoga com outro personagem que nunca responde.
- Terceira pessoa — narra fatos acontecidos a outras pessoas.
- Quanto ao envolvimento do narrador
- Protagonista — narra fatos que aconteceram consigo, torna-se protagonista, ainda que a sua participação na ação seja pequena. O autor costuma usar artifícios para evitar que o leitor perceba de antemão que o narrador sobreviveu a todos os fatos, o que, em algumas situações, pode ser prejudicial à construção da história.
- Testemunha — tipo de narração em primeira pessoa, geralmente quebrando a quarta parede, no qual a história é contada por alguém que não o protagonista, mas que esteve em situação privilegiada para acompanhar o protagonista, ou pôde obter dele a narrativa de sua história. Normalmente o narrador não tem acesso a todos os dados, e precisa preencher certos detalhes com suas deduções ou com a sua imaginação.
- Onipresente — acompanha todas as facetas da ação, sem restrições de movimento.
- Quanto ao caráter do narrador
- Confiável — tipo ideal (mas raro) de narrador, que narra os fatos sem hesitar e sem interpretá-los ostensivamente, mesmo quando expressa reações e opiniões contrárias aos fatos. Podemos supor que este narrador nos contou toda a história como realmente aconteceu.
- Seletivo — narradores sinceros que nos conta a história filtrada sob o seu ponto de vista, suprimindo informações que nos chocariam ou oferecendo interpretações que normalmente se confrontam com os fatos em si. Como se trata de um narrador sincero, ele não tenta ocultar estas contradições, pois não as enxerga ou não as considera relevantes. Abundantes exemplos na literatura de horror.
- Inconfiável — o narrador tem memória vacilante, às vezes nos dá detalhes, às vezes não se lembra de informações importantes. Além disso, está mais preocupado em nos impressionar com a história do que em nos contá-la efetivamente. Ele pode ter a intenção de angariar nossa simpatia, não porque julgue seus atos deploráveis, mas porque deseja atenção. Embora inconfiável, este narrador não é desonesto, ou não nos passa esta impressão, porque, apesar de suas vacilações influenciarem na narrativa, ele não parece esconder informações deliberadamente.
- Manipulador — narrador que pode narrar com ou sem hesitação (conforme o trecho da obra) e seleciona cuidadosamente quais fatos narra e com que palavras nos narra, com o objetivo deliberado de nos fazer concordar com seus pontos de vista. O narrador manipulador, embora nem sempre detectado pelo leitor como tal, é sempre desonesto.
- Quanto ao seu conhecimento
- Onisciente — sabe tudo que for necessário para avançar a narrativa. Está em uma posição de “deus” e sabe tudo. Está em todos os lugares onde a ação transcorra, lê as mentes dos personagens e não somente seus pensamentos, mas seus anseios mais profundos. Prevê o futuro e conhece do passado até mesmo aquilo que nenhum dos personagens sabe.
- Especialista — seus conhecimentos se limitam aos arredores da ação. Qualquer novo elemento introduzido na história aparece como se fosse um deus ex machina, porque o narrador só demonstra conhecê-lo a partir do momento em que surge.
- Ignorante ou Criança — tem dificuldades até mesmo para conhecer o ambiente em que a história se passa. Seja por se tratar de uma criança, um deficiente mental ou uma pessoa diante de uma situação incompreensível.