Nenhuma atividade humana me parece menos adequada ao relaxamento do que pescar. Dizem que é bom para enfrentar o nervosismo, mas só se você quiser enfrentá-lo num ringue de artes marciais. Pescar de vara, anzol e linha é algo que só é concebível se você já sai de casa completamente relaxado, sem sombra alguma de nervosismo.
Começa pelo fato de que — ao contrário de ioga, meditação ou drogas — pescar envolve um longo e demorado deslocamento até o meio de lugar nenhum onde os peixes ainda não morreram todos envenenados pela poluição. Imagine: estou nervoso, quero ir pescar. A seiscentos engarrafados, pedagiados, esburacados e quentes quilômetros de distância. Ao chegar lá, se eu estava nervoso mesmo, eu já terei ultrapassado o nível do estresse ocasional e terei upado para o modo genocida.
Uma maneira de se contornar esse problema da distância é o “pesque-pague”, uma espécie de prostíbulo da pesca. Aqui tudo é fácil, a maioria dos tanques tem mais peixe do que água. Você joga o anzol e o peixe desesperado acha que é uma boia de salvação e se agarra. Você também se agarraria se estivesse lá. Não tem romantismo, não tem espera. Você quer, você pega. Se não quiser limpar o peixe, entrega na cozinha do restaurante, que o preparará para você ou para quem queira comer peixe. A sensação deve ser parecida com a de entrar num bordel, escolher uma mulher na vitrina, pagar e depois ir embora com o mesmo nível de satisfação de quem mijou.
Outro problema é a espera interminável. Não, ela não acaba depois que você chega. Você se senta na beira do rio, os mosquitos parecendo biplanos em torno de King Kong, e joga o anzol na água. Até o único peixe maior que um barrigudinho aparecer, atraído pela minhoca, você já pegou dengue, malária, febre amarela, impaludismo e alguma outra coisa com nome esquisito. A menos, claro, que você alterne entre segurar a vara e esfregar repelente no corpo até você mesmo se sentir repulsivo. Alternância que supostamente “espanta o peixe” com as tremidas da linha.
Alguns pescadores, que provavelmente foram pescar mais pelo prazer de estarem fora de casa do que por acreditarem que pescar seja qualquer terapia, contornam a espera de um jeito maroto: deixam a vara lá, fincada na beira do rio, e vão beber, sozinhos ou na companhia de outro pescador.
O problema da espera, claro, inexiste no “pesque-pague”, tal como o romantismo e a dúvida inexistem na relação cliente-fornecedor que se tem no putel. Se a natureza não devolve o dinheiro quando nega o peixe, o “pesque-pague” torna impossível não pescá-lo. Há relatos de quem pescou até sem isca. Há quem tenha pescado com o dedo quando foi lavá-lo na beiradinha da água.
Não se enganem, mulheres, a maioria dos homens não suporta a ideia de pescar. Eles só procuram isso porque querem férias dos choramingos das crianças e das reclamações domésticas em geral. Mas encarem pelo lado bom, ainda são tão preocupados com seu bem-estar que só trazem para casa peixes de qualidade devidamente inspecionada pelo S.I.F. Não é uma prova de amor?