Você mesmo, como eu, já deve ter um dia feito comentários contra homossexuais. Vivemos em uma sociedade tão embebida de homofobia que não nos damos conta disso por quase uma vida inteira. É uma atitude estúpida que se constrói em nós gradualmente enquanto crescemos em um meio reacionário e preconceituoso, uma atitude que custa a sacudir da alma. Venho penando para me livrar de meus preconceitos desde mais ou menos meus vinte anos de idade, quando comecei a perceber que havia injustiças no mundo. Alguns já mandei para escanteio completamente, a maioria eu reprimo porque tenho consciência de meu erro, mas não posso evitar olhares que se manifestem obliquamente às vezes.
Estas olimpíadas me trouxeram uma oportunidade de refletir sobre o prejuízo que a homofobia causa a diversos aspectos da vida em sociedade. Neste caso específico, aos resultados esportivos nacionais. Há outras coisas que também nos prejudicam, mas seria complicado tratar de tudo isso em um artigo só, então vou me limitar à homofobia. Ou seja, falemos dos “esportes de veado”, “dos esportistas fresquinhos”, “das bichices olímpicas”. Falemos de esportes que oferecem dezenas de oportunidades de medalhas que nós não vamos tentar conquistar porque nós não queremos que nos chamem de “veados”.
A primeira piada homofóbica em relação a um esporte olímpico que eu ouvi em minha vida foi em 1984, quando a televisão mostrou um pouco da chegada da marcha atlética. Amigos e parentes meus riram e disseram que aquilo não era “jeito de homem correr”. Os meus amigos e parentes continuam reduzidos a suas insignificâncias e a marcha atlética continua rendendo boas carreiras para milhares de atletas profissionais do mundo todo, dos quais nenhum era brasileiro até bem recentemente. Em cada olimpíada, três medalhas de ouro são atribuídas ao esporte, duas em modalidades masculinas.
Outro esporte muito preconceituado, um aliás no qual o nosso representante solitário teve de ser importado da Armênia, é a luta olímpica, ou “luta greco-romana”. Até episódio do South Park já foi feito zombando desse esporte, mas isso não impede os Estados Unidos de terem muitos representantes na modalidade, e de eventualmente ganharem medalhas. Infelizmente o esporte será excluído das olimpíadas após 2020, mas desde 1896 até 2020 ele foi um dos esportes que mais concederam medalhas, nada menos que 24 categorias (masculinas e femininas). Nunca o Brasil disputou qualquer destas medalhas, em parte porque seria uma luta de estilo “bichoso”.
Por fim, o outro esporte “fresco” que distribui muitas medalhas é a ginástica artística, com oito medalhas para homens. Nesse o preconceito já começa a se dissipar e até já temos alguns atletas medalhando, mas ainda enfrentam preconceitos.
Fico me perguntando aqui quantos jovens que ambicionavam seguir carreiras esportivas (ou até outros tipos de carreiras) não amputaram seus sonhos por receio de serem vistos como “veados” por uma sociedade que adora julgar os que tomam a iniciativa de fazer alguma coisa.
O preconceito, homofóbico ou não, acaba sendo um freio no desenvolvimento esportivo nacional e um impedimento à felicidade de quem não se enquadra no padrão.
Pensemos nisso.
É hora de parar de preconceito.
Eu concordo contigo.
Entretanto, tenho cá minhas dúvidas sobre a efectividade da luta contra o preconceito.
Principalmente em tempos em que muitas escolas/pessoas começam a adotar linhas impostas por morais evangélicas e por programas ideológicos como o “escola sem partido”…