Fase Intermediária: Estado Socialista
Marx em seguida diz que a dissolução final das diferenças de classe, com toda a produção concentrada nas mãos de uma “vasta associação de toda a nação”, levaria à extinção do caráter político do estado. Isto, claro, implica em completar a transição para um regime de partido único. Por isso, em todos os lugares onde o socialismo chegou ao poder através de alianças com partidos simpatizantes (“companheiros de viagem”), ocorreu um processo de fusão destes partidos ao partido socialista que liderava o processo. Assim foi na URSS, onde o POSDR (Partido Operário Democrático Socialista Russo) se transformou no PCUS (Partido Comunista da União Soviética) ao incorporar outros partidos de esquerda da Rússia e partidos socialistas de outras “repúblicas” que vieram a formar a União.
Isto aconteceria porque, segundo Marx, os diferentes partidos nada mais são do que ferramentas através das quais a burguesia organiza a divisão no seio das classes populares a fim de permitir a opressão. Sabe de onde ele tirou essa ideia?
A dominação alternada de uma facção sobre outra, agudizada pelo espírito de vingança, que é natural às dissensões partidárias, que em diferentes eras e países tem perpetuado as mais horríveis brutalidades, é ela mesma um despotismo terrível. Mas ele finalmente conduzirá a um despotismo mais formal e permanente. As desordens e misérias que resultam dele gradualmente inclinam as mentes dos homens à busca da segurança e do repouse no poder absoluto de um indivíduo; e cedo ou tarde o chefe de alguma facção prevalente, mais hábil ou mais afortunado que seus competidores, voltará esta disposição ao propósito de sua elevação pessoal, para ruína da Liberdade Pública.
Para quem não sabe, essas são palavras do discurso de despedida de George Washington da presidência da República dos Estados Unidos. Contrariamente ao que muitos pensam, Marx não era um radical em sua época, e suas ideias se baseavam no pensamento político mainstream.
Em vez de um sistema de partidos, Marx imagina que a ditadura do proletariado, ao atuar contra as distinções de classe, facilitará a extinção natural dos partidos. Se não há mais classes em conflito, não haverá partidos que as representem. Sem classes, o proletariado terá abolido a sua própria supremacia. Então, o domínio absoluto de uma classe (ditadura do proletariado) naturalmente dissolverá todas as bases do domínio absoluto até que se esqueçam as próprias idiossincrasias da luta de classes.
Parece idealismo demais? Concordo. Mas o socialismo, em toda a sua história, sempre foi mais uma meta a se perseguir, como a pureza angélica proposta por Jesus Cristo, do que um fato.
Em “Socialismo: Utópico e Científico”, Marx tenta sumarizar suas ideias a respeito desse processo de uma forma mais breve:
III. Revolução Proletária — Solução de todas as contradições. O proletariado toma o poder público e, por meio deste, transforma os meios socializados de produção, que saem das mãos da burguesia para a propriedade pública. Através desta ação, o proletariado liberta os meios de produção do caráter de capital que eles adquiriram e dá ao seu caráter social a completa liberdade para se desenvolver. A produção socializada através de um plano predeterminado se torna então possível. O desenvolvimento da produção torna a existência de classes diferentes um anacronismo a partir de então. Proporcionalmente, à medida que a anarquia da produção social desaparece, a autoridade política do estado se esvai. O homem, finalmente o mestre de sua própria organização social, se torna simultaneamente o senhor da Natureza e o seu próprio — livre.
Combinando estes conhecimentos com a minha vaga noção de como era organizada a vida na União Soviética, assumindo também que estamos tentando prever o que teria ocorrido se todos os estágios de todas as políticas de uma revolução comunista fossem implementadas plenamente, creio que poderíamos descrever um estado comunista conforme na próxima seção.