Ninguém tem o direito de nunca ser ofendido.
Mas, peraí, estarei eu defendendo o abuso verbal?
Não, não é isso. Ofender-se é algo subjetivo e pessoal. Pessoas diferentes se ofendem com coisas diferentes. Eu, por exemplo, me incomodo com a simples existência do funk no mesmo universo que eu. Fico puto de ouvir aquelas letras obscenas e aquela música troncha. Mas a maioria das pessoas ouve na frente dos filhos a canção que fala de meter o piupiu na pepeca até relar e não se incomoda. Para a maioria dessas pessoas, babaca sou eu por achar isso exagero e mau gosto.
Para podermos conviver em sociedade nós temos que fazer nossa pequena parte para tentar mudar o mundo sem criarmos conflitos gratuitos. Temos o direito de expressar nossa inconformidade, podemos dizer que estamos incomodados, mas não temos o direito de achar que ninguém pode nos ofender. Muito menos podemos achar que a nossa opinião é a régua para medir o mundo.
Claro que eu vou insistentemente dizer que estou certo, isso faz parte do debate. Insista também a sua opinião, traga seu argumento. Mas vamos manter a civilidade. No alto de cada púlpito nós dois vamos discutir como dois inimigos, depois a gente desce e vai no boteco pedir cerveja para molharmos a goela juntos e ouvir a opinião da galera que acompanhou a diatribe.
O mundo da literatura sempre foi assim. Chesterton e Bernard Shaw eram amigos de copo e virulentos adversários políticos, mas se respeitavam intelectualmente o bastante para não darem pitis. Adversários, mas cavalheiros.
Esse é o mundo com que eu sonho.
Se não fosse o funk, outra coisa me incomodaria. O mundo tem e sempre terá muitas coisas com as quais não nos conformaremos. É preciso ter maturidade para aceitar isso e conviver, pois não é viável o meu antigo plano de construir uma grande torre para ficar a salvo do ruído do mundo. Além da logística infernal, o custo seria proibitivo.
Toda vez que abrimos a boca alguém discorda e mais alguém concorda e a grande maioria ignora. E sempre haverá ao nosso redor alguém dizendo coisas que aceitamos e que rejeitamos. Temos que filtrar isso, sem simplesmente desconsiderar preconceituosamente o que não entendemos nem gostamos.
Mantendo o cavalheirismo, e se possível a cerveja.