“Precisa valorizar a literatura nacional” — diz o autor que assina com um pseudônimo gringo, cujos personagens têm nomes em inglês e cujas histórias são ambientadas numa gringolândia clichê.
Amigo, quem quiser valorizar a literatura nacional deve passar longe da sua obra.
Veja bem. Não quero dizer que seu livro seja de todo ruim, sequer em parte, ou mesmo que eu não o leria. É apenas uma questão de identidade. “Literatura nacional” pode ser boa ou ruim. Seu livro pode ser bom ou ruim independentemente de ser nacional. Mas para valorizar a literatura nacional é preciso que ela seja identificável. Se ela se tornar parecida demais com a literatura estrangeira, será cada vez mais difícil valorizar.
Então, se o seu livro possui tantas características estrangeiras assim, ele ajuda a diluir o caráter nacional de nossa literatura. Portanto, aqueles que desejem “valorizar a literatura nacional” não devem prestigiar obras como a sua.
Isso deveria ser bem óbvio, mas não é. São muitos os autores que só falam em “literatura nacional” quando querem puxar a brasa para a sua sardinha. Quando querem vender o que escreveram, apelam para o verde e amarelo. Mas quando estão comprando ou lendo obras alheias, pensam mais no estrangeiro — e por isso é que ficam tão cheios de influências anglo-ianques.
Claro que esta postagem parte do pressuposto de que você queira valorizar a literatura nacional, que ache isso relevante. Se não acha essa uma bandeira pela qual valha a pena lutar, então não importa se você escreve algo que não parece nacional. Só que nesse caso soa terrivelmente hipócrita você falar em “valorizar a literatura nacional”.