Hoje perdi um amigo. Era um sujeitinho peludo e de nariz frio, algo tristonho (talvez de saudades das ruas e das cachorras), mas era um desses que a gente se afeiçoa fácil. Até eu, que nunca tivera nenhuma vontade de ter um.
Eu o apelidara de Bob Cachorrovich Viralatov porque o recebi em adoção em uma época em que estava, novamente, tentando aprender russo. Achei apropriado e ele não se importou. Ele não era do tipo que se importava muito. Enquanto houvesse água em sua latinha e ração no comedouro ele estava feliz, latindo para a cachorrada da rua, brincando no gramado e, quando fazia calor, espojando-se na garagem para refrescar “as partes”.
A sensação de perdê-lo é quase tão desagradável quanto a de perder um amigo humano. Ele era uma pequena vida que eu tinha para cuidar, mas, infelizmente, não consegui protegê-lo de todos os perigos do mundo. Quando percebi que havia algo errado, já era tarde, ele já estava muito doente e não foi possível salvá-lo.
Sempre teve uma saúde algo frágil, apesar de ser desses que a gente imagina que nasceram adaptados para o mundo cão. Mas era carinhoso com as crianças e, apesar de algumas vezes eu ter zangado bastante com ele, por causa de seu mau hábito de morder coisas, ele mesmo nunca me mordeu. Foi esse hábito, porém, uma das coisas que selaram seu destino.
A imagem que fica mais marcante é essa aí, dele feliz em um dia de verão, barriga cheia de lixo depois de voltar de uma fugida pela rua, pedindo perdão pela travessura.
Vá em paz, Bob.
Esse nome Russo no cachorro me fez lembrar de um gato preto de tamanho considerável que é meio que “invasor” na minha casa. O apelidei de Pável Ivánovitch Tchítchicov em referência a obra de Nikolai Gogol. É realmente uma pena quando nossos bichinhos morrem, lembro até hoje de um gato meu que acabou morrendo por ter tido a espinha quebrada por um cachorro que era 7 vezes o seu tamanho. E sabe como é, eu era bem criança na época e nos afeiçoamos bastante aos bichinhos.
Eu já passei por isso algumas vezes…
Eu te entendo.