Você não faz ideia de quantos camaradas de nosso grupo já perdemos por causa dessa frase terrível quando, inadvertidamente, no meio de uma conversa descuidada, alguém comete o desatino de pronunciar estas palavras fatídicas! Que cena deprimente, camaradas!
Da primeira vez que contemplei esta cena eu estava tranquilamente adorando Satanás com um sacrifício humano sobre o ventre de uma prostituta quando o nosso bode de estimação fez um movimento repentino com a cabeça e derrubou um incensário que puséramos sobre uma trípode para podermos segurar os braços e pernas da virgem que sangraríamos aquela noite. O incensário caiu sobre nós pesadamente e nosso hierofante deu um grito medonho ao ser envolto nas brasas e cinzas quentes que lhe atingiram a face.
Por um momento pensamos que ele fora cegado pelas faíscas e nos distraímos tanto com seus gritos de dor que nem perceberíamos a fuga da vítima, se ela não estivesse drogada e tropeçasse no bode.
Por fim o hierofante lavou o rosto na bacia cerimonial (onde fizéramos a virgem urinar antes de se deitar no altar de sangue) e percebeu que não fora nada de muito grave. Um neófito, menos acostumado às nossa capirotices, disse:
— Vejam! Ele não se machucou, graças a Deeeee….
Ele nem terminou de falar e começou a se retorcer e a se debater como se o fogo do inferno o envolvesse. Não havia mais o que fazer, senão afastar os olhos da cena dantesca. Depois de uns quatro ou cinco minutos de sofrimento pavoroso o jovem finalmente estava reduzido a pouco mais que um tolete de carvão úmido não maior que um peru assado.
Isso foi tudo que os policiais encontraram quando, atraídos pela algazarra, penetraram em nosso covil (que nós, alertados por Lúcifer, já havíamos abandonado).
Desde então eu aprendi, pelo testemunho de meus próprios olhos, que é impossível que um ateu pronuncie as palavras “Graças a Deus” em voz alta sem entrar em combustão espontânea de uma maneira horrível. Este é um ensinamento que eu sempre procuro enfatizar em cada iniciação que faço, para que os neófitos se precavenham de cometer essa besteira.
Claro que essa preocupação não é pela alma nem pelo corpo dos jovens ateuzinhos, porque hoje mais da metade da população é ateísta de alguma maneira, é porque dizer a palavra errada na hora errada pode pôr a perder um ritual perfeitamente organizado e um local de culto muito adequado. Se já é difícil esperar que as estrelas se alinhem, imagine o quanto é difícil achar uma virgem entre nós ou realizar o ritual em um lugar sem curiosos!
Obrigado pela pergunta.