Muita gente pronuncia meu sobrenome errado, mas isso não me incomoda tanto porque nossa língua é bem dialetada e pronúncias divergentes são aceitáveis. Então tanto faz se você me chamar de “Gouvêa”, “Goveia”, “Gouveia”, “Govêa” etc. Desde que não pratique o velho hábito de alternar entre “ou” e “oi” eu vou entender e perdoar.
O problema é a escrita.
Parece-me inaceitável que quase ninguém consiga escrever direito o meu sobrenome. Tudo bem, as pessoas estão acostumadas a escrever “Gouveia” e podem estranhar não haver um “i”. Então deveriam entender facilmente quando eu digo “Gouveia, sem o i”. Mas não…
Se eu mesmo não escrever, a chance é de que em mais de 90% dos casos as pessoas grafem meu sobrenome errado das maneiras mais hilariantes: “Goveia”, “Gouve”, “Gorveia”, “Golveia”… Fica ainda pior no email.
Há muitos anos, mais de vinte anos, eu adoto como assinatura de email (e também no Twitter) o nick “jggouvea”. Parece-me bastante óbvio: minhas duas iniciais mais o sobrenome. Você não imagina as monstruosidades que eu já vi por aí, apesar de eu sempre avisar que é a abreviatura de meu nome: “jotageouvea”, “jgggouvea”, “jjgouvea”, “jgoveu” (sim, esse também). Isso ainda é pior com atendentes de telemarketing e é a principal razão pela qual eu só uso esses serviços quando sou obrigado.
O atendente de telemarketing só tem a permissão de começar a trabalhar depois de um curso intensivo com um fonoaudiólogo para aprender a pronunciar seu próprio nome de maneira incompreensível e fanhosa. A ideia é que o seu nome jamais seja identificado pelo infeliz que liga. Até hoje eu só encontrei UM atendente de telemarketing que falava pausadamente e com clareza. Todos os outros colocam biloscas dentro da boca para falar:
Infelizmente eles também tem uma incrível capacidade de entender errado endereços, resultando em enormidades como a rua “Boneger Dutra de Moraes” (aqui em Pequeri, nomeada em homenagem a um ex-prefeito que se chamava “Boanerges”), ou a rua “Viktor Ford Arantes”, que é na verdade “Vítor Belfort Arantes”.
Sem falar no clássico:
No fundo eu até tenho sorte. Eu poderia me chamar Kubitschek.