Um livro “xarope” é aquele que consegue o milagre de ser enjoativamente doce, mas tem um gosto ruim. Geralmente você lê esses livros porque alguém diz que vai ser bom para você. O consumo frequente pode levar à dependência e o efeito do consumo é meramente sedativo daquilo que o incomoda.
- Personagens: anjos, duendes, fadas, gnomos, elfos e quaisquer seres que andem descalços, tenham asas ou andem com eternas expressões sorridentes no rosto.
- Imagens na capa: céu azul, sol poente, cachoeira entre pedras, flores, samambaias, animais selvagens correndo livres; qualquer coisa dessas.
- Palavras no título: amor, amizade, afeto, união, luz, palavra, vida, sentido, paixão etc.
- Quantidade de páginas: convenientemente fino, com não mais que umas 130 páginas.
- Tamanho das letras: 120% ou mais o tamanho normal que você vê nos outros livros. Um aumento imperceptível aos olhos dos fãs desses livros, mas que é visto facilmente por quem está acostumado com tipografia.
- Desenho interno: ornamentos florais separando seções, títulos de capítulo em fonte pseudo-manuscrita, títulos de capítulo escritos sobre um plano de fundo com reproduções em preto e branco do mesmo tipo de imagens citado no item 2.
- Desenho interno: impressão de texto em sépia, malva, violeta, azul-marinho ou verde.
- Ilustrações de pessoas (tanto na capa quanto no interior): faces inexpressivas ou aparentando dor ou êxtase, olhos voltados para cima, gestos simétricos, pose estática.
- Roupas das pessoas nas imagens: em estilo “bíblico” (pseudo hebraico antigo) ou “medieval” (ou seja, vestes semelhantes aos reis e rainhas da Renascença usadas por camponeses de uma suposta Idade das Trevas). Alternativamente, roupas contemporâneas, mas singelas e em cores suaves.
- Argumento de venda: “uma importante lição”, “ensinamentos para a vida”, “revelações importantes”, “descubra seu potencial” e coisas assim.
- Orelha, prefácio ou equivalente: quando existe, é assinado por algum líder religioso ou por alguém que se apresenta como executivo de uma grande companhia. Em geral um recomenda o outro, isso quando o autor não tenta ser simultaneamente os dois (“guru das vendas”, “mago da administração” etc.).
- Perspectiva de “desova”: pequena, pois todas as bibliotecas do seu bairro já devem ter, seus amigos já aprenderam a lição em algum grupo de auto-ajuda ou algo assim. Você vai tentar valorizar dizendo que é um livro que você jamais daria a alguém por causa de seu valor. Com isso, a única pessoa que talvez o aceitasse de você vai ficar resignada e comprar um.