Quando provei de tua boca,
o que caiu foi claro
como calmo ar sob o sol
numa manhã tonta
espremida entre um sonho e outro.
Espargi palavras sem sentido,
algumas atingiram teu ouvido.
Contive-me, contudo,
considerando minha covardia.
Mudo, sonhava tua nudez.
Quando eu senti tua presença,
o perfume perto, o hálito denso,
o toque tépido de dedos dóceis,
a falsa frieza de uma carne aflita;
o que pensei foi puro, foi místico
e pousou como um pensamento antigo.
Folhas secas farfalhando no silêncio,
a ventania evitável ressecando o olho
e um abraço sem maldade nem mordida;
e estive quieto como quem espera a morte.
O ato agressivo atingiu-nos,
a carne e suas intempéries, seus hormônios
o cumprimento doloroso de um dever
que espanta o espírito e espalha o afeto.
Não resistimos, é verdade, mas era imperioso
naufragar na agonia cármica do ato
que se completa num alívio que esvazia.
A carne atrevida, aos poucos, aceitava
o perigo e o abismo que existe na entrega.
Ambos agora, dominados pela ilusão,
são o brinquedo que jogamos.