Nisto que chamam mudez
escondi meu cemitério,
é nos signos antigos que ficam
velhos pecados guardados.
Não há porque pecar de novo,
as velhas festas se foram
e os desejos não ardem mais.
Não há porque tentar de novo
com palavras provisórias
porque não têm o peso de antes.
A velocidade não me seduz,
todo esse ruído é intragável,
espero é que caia chuva
no pomar, entre pés de laranja,
para que frutifiquem as flores.
Existe beleza nas gotas
e seu terno ruído contado,
nisto a semente de uma certeza,
os ruídos gotejam as horas
e minha vida escorre nelas
até empoçar na mudez.
Nisto há somente a espera
porque me planto à beira da água
com esperanças de que algo venha,
venha a dama que eu venero,
a dama que não existe.
Que venha a dama de verde
nadando na tarde dura,
com seu vestido triste.
Em suas mãos deixarei alguns medos
e depositarei meu beijo em seu busto.
Depois eu vou esquecer de tudo
com ela andando debaixo da chuva
no pomar, entre pés de laranja,
cada vez mais perto do muro.
Original: 1999, revisto e ampliado nesta data