Uma lua aveludada acarinha minha solidão
e amortece mais o som cavado e longínquo
da sinceridade em meu coração
e respiramos em silêncio a luz de anêmona,
desta luz-feitiço que reveste a noite
de um pensamento iníquo.[^1]
Você trouxe uma taça de licor quando entrou
e dominou-me pensamentos, palavras, atos e omissões.
A noite depois se dobrou sobre nós
e vento bateu as janelas
e derrubou o livro pelo chão.
Corujas piaram na escuridão,
o vago e incriado exterior,
contamos os minutos no relógio
ouvindo os curiangos no terreiro e mugidos de vacas.
Passou a hora incrível, passou a luminosa idade
Mas estamos aqui neste exercício de humanidade
tentando que o frio do orvalho não nos dome,
tentando crer não ser verdade que habitamos
neste imenso pasto onde vagam vacas loucas.
[^1]: Escrito em algum momento entre 2002 e 2003, este foi sempre um dos poemas que eu mantive em todos os meus blogs e sites. Acredito que muita gente já o deve ter baixado, em várias de suas versões.