É preciso ter a ingenuidade que só a ignorância permite.
Somente assim é possível a coragem de dizer certas coisas
que, mesmo necessárias,
permaneceriam caladas na boca do sábio que as reconhece
ditas por outras bocas, de outros sábios.
Lá fora brilha um sol de versos e de flores
e os sorrisos denunciam que morreu o inverno.
Outro poema aberto jaz diante dos autores
E ninguém consegue expressar sua certeza nele.
Porque esse poema ecoa outro poema que nasceu de outro
numa genealogia infinita de palavras que concordam.
Nossa ambição do novo nos impede o prazer do óbvio:
o prazer de ainda ser parte do que existe.
Não, não pode, na mente emaranhada do poeta
caber tanto conhecimento que não sobre
ignorância que se possa preencher com fantasia.
Os sábios perceberam já
e pararam de falar.