Existe algo de muito cruel na Internet: ela nos expõe demais, cedo demais. Quando eu tinha dezesseis anos eu também escrevia e me achava uma reencarnação de Rimbaud (fazia poemas, lógico).
A diferença é que minhas pobres páginas datilografadas não iam muito longe. Xerox era caro, mimeógrafo, trabalho. Os jornais da cidade só publicavam as coisas que os caras ricos escreviam, por mais bosta que fosse. Bosta de rico é perfume. Então só me sobravam as gavetas e a esperança. As gavetas foram enchendo e a esperança, esvaziando.
Se fosse hoje eu criaria um blog para compartilhar meus poemas e seria imediatamente estraçalhado verbalmente pela matilha de críticos ácidos que espreita a Rede Mundial.
Pobres dos autores de hoje. Nosso mundo não lhes dá suficiente obscuridade para que vicejem. E as frutas verdes, expostas ao sol, apodrecem antes de amadurecer.
“Se fosse hoje eu criaria um blog para compartilhar meus poemas e seria imediatamente estraçalhado verbalmente pela matilha de críticos ácidos que espreita a Rede Mundial.”
Realmente, tem muitos “doidos de internet raivosos” por aí, como um blogueiro que sigo disse para justificar a remoção da seção de comentários do blog dele. Mas o meu nunca teve algo do tipo, fora um “você é um cagão” de um sujeito que vinha me trollando no Facebook. Mas até que gostei? Achei engraçado!
“Os jornais da cidade só publicavam as coisas que os caras ricos escreviam, por mais bosta que fosse.”
Como os jornais faziam para selecionar apenas os ricos?
Alguma crítica pode ser muito bem vinda, Zé. Tenho blog há alguns anos e nunca me destroçaram, porque nunca ‘me lera’, embora eu espere por esse momento.