Cenário: um confessionário silencioso. Um bandidão famoso, ligado a um grande empresário, se confessa com um padre.
BANDIDÃO: Vossa Eminência precisa me conceder esta graça.
PADRE: Não sei, meu filho. É algo difícil. Não sei como avaliar.
BANDIDÃO: Por favor, Eminência, é um caso importante.
PADRE (consultando um enorme livro e com uma calculadora HP 12C na mão): então vejamos…
(minutos depois)
BANDIDÃO: Já tem a resposta, Eminência?
PADRE: Acho que sim, mas ficaram dúvidas. Serão nove, correto?
BANDIDÃO: Nove. Estou pondo dois extras se ocorrer algum imprevisto.
PADRE: Dos nove, então, dois serão de forma não planejada e rápida e somente sete estão já decididos…
BANDIDÃO: Confere.
PADRE: E como será?
BANDIDÃO: Do jeito nordestino, capando e sangrando devagar.
PADRE: Hum… Hum… E estará envolvido algum ato libidinoso?
BANDIDÃO: Talvez enfiar a peixeira no cu de cada um…
PADRE: Isso pode ser visto como ligeiramente libidinoso.
(faz cálculos)
BANDIDÃO: E então?
PADRE: Considerando que não é por sua vontade que o faz, mas por necessidade profissional e que desde já manifesta sincero arrependimento, acho que podemos fechar com 49 terços rezados em um semana, além de 49 mil reais pagos a vista.
BANDIDÃO: E os outros dois?
PADRE: Esses ficam como legítima defesa se chegarem armados ou como acidente se for apenas eliminação de testemunhas que não deviam estar lá.
BANDIDÃO: OK. Eminência. Posso pagar com cheque?
PADRE: Claro que não. Isso denunciaria sua participação. Pague em dinheiro vivo.
BANDIDÃO: OK. Eminência. Prazer fazer negócios com o senhor.
PADRE: Vai em paz meu filho.
(bandidão sai)
PADRE: Sacristão, mande entrar o próximo…
PROLETÁRIO: Eminência, eu levantei a mão contra minha mulher.
PADRE (analisando as roupas puídas e os dentes cariados do miserável): A mulher é a imagem da mãe de Nosso Senhor e agredi-la um crime hediondo! Reze 72 terços para cada vez que ergueu a mão e passe a ser dizimista regular.
PROLETÁRIO: E estou livre do purgatório?
PADRE: Se fizer o que disse, está livre do inferno. Do purgatório, só na misericórdia de Deus.