Sexta-feira, cinco de outubro de dois mil e dezoito. São cinco minutos deste dia que amanhecerá carregado, por mais ensolarado que esteja.
Não me interessa mais especular quem vencerá as eleições, amanhã, depois ou nunca. “Ao vencedor, as batatas”. A derrota é geral e irrestrita quando a guerra se trava sem limites — ainda mais quando a guerra não deveria ser uma guerra.
O ano de 2018 ficará marcado na história do Brasil, se no futuro ainda houver História do Brasil. Estamos no ápice frenético do ódio, que nos divide e nos fere. Cegados por ele ofendemo-nos uns aos outros, difundimos tolices, principalmente acreditamos em coisas que ninguém deveria aceitar. Somos parte da geração que mudou a imagem internacional do Brasil, de um povo festeiro e amigo para um povo intolerante e violento. Estamos de parabéns. O mundo se preocupa com nosso aparente suicídio: não há Europa e nem Uruguai suficientes para duzentos milhões de refugiados.
O ano de 2018 ficará marcado como o ano em que queimamos nosso museu por uma porca economia de trocados.
O ano em que boatos superaram os jornais e a mentira circulou sem receio, de braços dados com o medo.
Sim, o medo. Ele nos pegou pelo braço, nos deu uma chave de pescoço e só nos deixa respirar o suficiente para ainda termos ódio.
Este será, na história o ano em que o ódio chegou à sua glória.
Mas não começou hoje. O fruto tem uma história que começa ainda na semente. Não falemos dos primórdios, porém, poderíamos ter colhido as flores e não teríamos agora este fruto que nos incomoda, enorme, fétido. Quantas vezes nós fechamos nossos ouvidos ao amor e à poesia, para escutarmos a inveja, o ressentimento e as saudades falsas de um passado ideal?
Já perdemos. Ganhe quem ganhar, perdemos amigos, perdemos o respeito de familiares, perdemos relações sociais, perdemos a alegria de andar na rua entre as gentes, nosso orgulho nacional.
Mais solitários que antes, nos deparamos com um futuro esfíngico. Já não temos tantos aliados porque nos tornamos combatentes de nós mesmos. Bellum omnia omnes não é o nosso grito, mas é o nosso ato.
Retrocedemos em tantas coisas, mas não nos arrependemos. O retrocesso é o arrependimento de não termos impedido a mudança. Fomos. Fomos. Voltamos com medo no olhar, das casas que se descortinaram, das coisas novas que nos desafiavam.
Eu não sei o que será desse país de amanhã em diante, ou de mim.
Sei de uma tristeza enorme que me espanta e paralisa. Por saber que foi tão fácil, que houve tantos a cooperar. Eles são cúmplices da demolição de um ideal nacional que eu amava, e que agora sei que existe somente em meu coração.
Fui derrotado, mesmo que tenha ganhado quem eu pensava. A vitória distante não cura a minha vida, não me restabelece o amor e a ilusão. Assim como o futebol não me alegra de fato, não mais que noventa minutos.
Que o futuro não nos morda, apenas.
Que ainda haja sol, mesmo depois que não houver mais nada.