Meu querido progenitor ensinou-me isto: o homem consome o mundo e segue destruindo-o por muito querer ter dinheiro, este que nos oprime sem nos comprimir. Onde houve o belo, existe hoje um resto somente. Fomos loucos pelo ouro e sofremos de sede porque os rios correm poluídos. Construímos urbes enormes, onde somos tristes. Esqueceremos tudo que tivemos? Uns creem que em nós, filhos do milênio, inexiste sequer o símbolo do tempo ido, que somos um outro tipo de gente, com sentidos diferentes, desejoso de objetivos que um homem do tempo “velho” nem com esforço entende. Eu creio que perdemos muito, que ficou um imenso furo em nós, onde tivemos o pressentimento do perfeito, visto no brejo simples, em peixes, em flores, em bosques, em montes, em tudo que houve longe do poder destruidor de sentimentos vis, por minérios e poderes; tudo de breve, fugidio e pouco nutre o espírito. Crer em Deus é diferente disso. Sou descrente dEle, porém compreendo os que sentem-no em si. O furo em mim tem outro contorno, sinto que perdi tudo isso que foi removido do mundo desde que cheguei, ou nem esperou que eu viesse. Que esteve, hoje é oco. Lembro mesmo isso? Ou sou somente um tipo curioso de enfermo que tem ilusões? Diz-me tu, que me lês, se estou louco ou tenho motivo de sentir que em tudo e em todos eu encontro um pouco menos todo mês. Como se o mundo se extinguisse e fosse só um conjunto incompleto.