Um dos problemas de se ter um blogue na internet é que as pessoas ainda não se deram conta de que o direito autoral existe e, pior, não distinguem entre o abuso de direito autoral cometido por uma multinacional que chega a pagar propina a congressistas para estender os prazos de seus direitos, e os de um pobre autor amador e desconhecido que só os quer usar para obter reconhecimento pelo seu trabalho.
Author Archives: José Geraldo Gouvêa
Recurso Apresentado a um Concurso Público
Provando que eu já era meio ardoroso na defesa de minhas opiniões em 1999, vai uma correspondência por mim enviada à Prefeitura de um município do interior mineiro — com cópia para conhecido jornal de ampla circulação na região — após ter conhecimento do gabarito final de um concurso para provimento de vagas no magistério municipal, no meu caso para lecionar História. O concurso acabou anulado e eu, que havia sido reprovado por uma questão, tive a chance de fazer a prova de novo, mas […]
Marina
Marina leva a xícara aos lábios e, ao vê-los refletidos no café negro, se despe da dureza que vestiu nos últimos meses. “Que falta me faz a Luísa” — confessa em voz alta, sabendo que não há ninguém perto para ouvir. O último diário de Luísa jaz sobre a mesa do café, ainda lacrado. Justamente neste momento Marina está refletindo sobre o que ainda não leu, enquanto lembra o que viveram. Um mês da morte de Luísa. A gente não se acostuma com isso, acho […]
A Gramática dos Dialetos Brasileiros Merece Respeito
A leitura de *Preconceito Linguístico: o que é e como se faz* — obra seminal de Marcos Bagno — me abriu os olhos para algo que eu intuía, mas nunca articulava: o viés de luta de classes que está presente na concepção da língua como algo que precisa ser ensinado ao povo *ignorante*, ao povo que *não sabe falar*. Na visão da gramatiquice tradicional, já devidamente desancada por Monteiro Lobato em sua *Emília no País da Gramática*, o povo é uma espécie de primata pelado que não se humaniza, pela linguagem, se não for à escola, esse laboratório do saber onde o tosco bípede é amestrado naquilo que serve aos objetivos da sociedade capitalista.[…]
Instituições Policiais na Província de Minas Gerais no Segundo Império
O amigo leitor que se pergunta o porquê dessa postagem saiba que se trata de uma descoberta notável, que me salvou do ostracismo um dos melhores contos (quase uma noveleta) que eu jamais escrevi. Terminada a história, maravilhosamente ambientada nos “sertões do leste” de Minas Gerais, em um momento indefinido do Segundo Império (vários elementos na história indicam que se trata de um contexto pós-regencial), eis que me dei conta de um imperdoável e imenso anacronismo: o desfecho da história só fazia sentido mediante a […]
Porque Desprezar o Português
Onde algo é sacralizado, é natural que surjam os contestadores. O iconoclasmo é uma espécie de rito de passagem para os jovens e uma marca de “independência” dos mais maduros. Provocar essa irreverência é uma maneira eficaz de manipular as pessoas: tendo um judas para chutar o indivíduo acredita que é um contestador, e obedece aos comandos, subreptícios ou explícitos, e segue mais ou menos na direção que interessa ao provocador. Identificado um alvo tido por muitos como sagrado, é muito fácil reunir uma turba de pessoas para cuspir nele, com a desculpa de que estão fazendo a revolução.
Um Hai Kai Gastronômico
Quem come ostra e camarão
come qualquer coisa,
menos escorpião.
Rebola e Dá um Gritinho
Bem, sacode o negócio agora, menina (sacode o negócio) Rebola e dá um gritinho (rebola e dá um gritinho) Vem, vem, vem, vem cá, menina (vem cá, menina) Vem cá fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer) Bem, fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer) Você sabe que você é muito boa (é muito boa) Você sabe que você me bota para andar (me bota para andar) Do jeito que eu sabia que andaria (eu sabia que andaria) Bem, […]
A Falta Que Faz a Profissionalização
Semana de Carnaval animada e acabo de tomar conhecimento da mais nova travessura do blogue LitFanBR, que costuma esculachar o mercado literário brasileiro, especialmente o voltado para a chamada «Literatura Fantástica» — esse termo genérico para toda obra que inclua coisas que não existem, sejam elas sobrenaturais ou não. Alguém, com o pseudônimo de Super Choque (imediatamente me veio à cabeça a imagem de um nerd negão com óculos de fundo de garrafa e uma fascinação por uniformes) publicou lá um texto que me evocou […]
Continuamos Comprando Espelhos
Não é preciso, absolutamente, discorrer sobre as virtudes de nosso sistema educacional. Mesmo porque, tal discurso não seria suficiente para preencher uma postagem. Suficiente para botar a Indonésia no chinelo e galgando um honroso 36º lugar mundial, graças ao fato de não haver dados sobre a maioria dos países, a nossa educação goza de um status de praga do Egito, apesar de, segundo nosso governo, estar “no caminho certo”. Com alguma boa vontade, querendo crer que ele tem razão, eu diria que demos os primeiros […]