Ontem tive pela terceira vez este ano o desprazer de perder totalmente um texto em que estava trabalhando. Tratava-se de uma bonita crônica sobre poesia, poetas e esquisitices poéticas, que traçava o caminho entre a escrita de um poema de 39 versos e sua cristalização em um curto dístico, forma definitiva e total que ele teria. O texto se perdeu porque meu computador, que anda com a placa de vídeo problemática, travou subitamente enquanto eu o escrevia. Mas meu PC não foi o único culpado. […]
Author Archives: José Geraldo Gouvêa
Retornado do FELICA
Tal como no ano passado, compareci ao Festival Literário de Cataguases. Este ano, além de tietar eu também tive a oportunidade de falar umas bobagens com um microfone na mão enquanto alguém filmava para pôr no sítio oficial. Ao meu lado estava Miklós Palluch, que também estreia no romance, como eu, mas — ao contrário deste mineiro interiorano — padece de muito mais cultura, experiência de vida e contatos. Fiquei bastante feliz de ver que minha campanha de divulgação foi relativamente bem sucedida. Embora tenha […]
De Tanto Ver Triunfarem as Nulidades…
…assim começa um famoso raciocínio de Rui Barbosa, parte de um de seus perfeitos discursos. Feliz era o Brasil no tempo em que os políticos de seu Congresso ainda encontravam tempo para redigir discursos. Mas não quero falar de Rui Barbosa e nem de nulidades, apenas mencionar como, tantas vezes, procuramos justamente aquilo que nos faz mal. Eu poderia estar feliz hoje, poderia estar tinindo de alegria com os contatos que fiz ontem no Festival Literário de Cataguases, poderia estar comentando sobre elogios e críticas […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte Final
Voltar ao Índice Se as editoras conseguirem o que querem, implantarão suas “equipes cocriadoras” e tentarão amestrar todo jovem autor que as procurar querendo divulgação. Muitos talentos serão castrados. Para os corajosos, como a porta da rua é serventia da casa, restarão os desertos da independência. Meu Deus, a horrível liberdade. Uma “equipe cocriadora”, no contexto da literatura, é um conceito tão monstruoso que foi preciso mais de um século para ele tomar corpo, desde que as editoras começaram a contratar revisores que iam além […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 5
Voltar ao Índice A era eletrônica, o paraíso do editor. Ou melhor, do censor. Antigamente se poderia bem dizer que “livro é como passarinho”, depois que saiu da prateleira da livraria ninguém mais controla. Hoje em dia é possível revogar a publicação do livro, apagar do dispositivo chique o arquivo ofensivo que não deveria ter saído. Mas, acima de tudo, hoje em dia é possível fazer as “correções” na redação do escritor-aluno até que seja aceitável no contexto da edição-escola. Onde foi que esqueceram pelo […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 4
Voltar ao Índice Vocês devem estar imaginando, então, que eu sou mais um que celebra o futuro esfuziante que vem aí. Que sou contra as ferramentas de controle do conteúdo, mas que abraço entusiasticamente o mundo eletrônico. Nem tão depressa assim, motorista, pare o ônibus do futuro, pois quero descer. Quero voltar para minha casa, achar meu próprio armário debaixo da escada, ali me esconder, com minha velha máquina de escrever, e então, de dentro da escuridão desse meu canto, oferecer-lhes meu vislumbre desse futuro. […]
O Verdadeiro Autor Marginal
Você provavelmente nunca ouviu falar de Charles Kembo. Acontece que ele se tornou hoje o pivô de uma das notícias literárias mais interessantes do ano, ao tornar-se o autor do livro “A Trindade dos Super-Garotos, Livro I: A Busca pela Água”. Aparentemente não há razão alguma para que o caso seja “interessante”, mas o caso merece atenção. Antes de tudo, é preciso dizer que a obra citada é bem justamente o que parece: uma trilogia de ficção científica protagonizada por jovens que salvarão o mundo […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 3
Voltar ao Índice Na postagem passada eu argumentei que o “livro eletrônico” entre aspas (marketeado como “e-book”) não é um produto novo, mas uma tentativa de mercantilizar algo que já existe. E que o objetivo do “e-book” não é oferecer conteúdo, mas controlá-lo. O livro é uma ferramenta muito poderosa. Tão poderosa que ele, praticamente sozinho, acabou com a Idade Média e produziu esta sociedade em que você vive, este Admirável Mundo Novo, cheio de tantas pessoas adoráveis. Não acredite nos historiadores tradicionais: o mundo […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 2
Voltar ao Índice Comecei a postagem passada dizendo que o “e-book” é uma “buzzword” poderosa, que adquiriu um caráter de dogma, e cuja crítica é retrucada com o anátema. Esta é uma característica predominante de nosso tempo: após décadas de modernismo, caracterizado pelo pensamento multifacetado, vivemos uma era de aspiração ao pensamento único, sob o signo do infame “fim da História” apregoado por Francis Fukuyama, nome que será eternamente lembrado pela ignomínia. Algumas “buzzwords” nomeiam coisas que efetivamente existem, são novas e se consolidam, como […]
Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque – Parte 1
Voltar ao Índice Discutir o tema “livro eletrônico” é clamar por encrenca. Como toda “buzzword” da era da internet, “e-book” é um conceito que adquiriu uma aura de dogma e qualquer tentativa de dissensão resulta em anátema. Aliás, qualquer pessoa que se preocupe com “firulas” como “privacidade” e “direitos” acaba sendo tachada de coisas horríveis, tal como fazem com o Richard Stallman — um sujeito brilhante, embora pouco hábil para cativar as pessoas pela simpatia, ingenuamente imaginando que as pessoas são racionais e compreendem argumentos […]