A Persistência

18 abril há 11 anos

Minhas lista de links chamou-me a atenção hoje pela coincidência de quase todos os membros dela, exceto o infatigável Sérgio Ferrari, do blog “Astro Miau”, estarem encerrando as atividades. Félix Maraganha já havia abandonado a literatura há cerca de um ano, em um episódio triste, que incluiu jogar no lixo todos os seus originais inéditos e os exemplares de suas obras publicadas. Episódio de que não restou registro porque agora o seu “Calango Abstrato” é um blogue privado. Felipe Holloway não atualiza o “Estou numa […]

6 comentários

Tradução: A Vinda do Verme Branco, 5 (C. A. Smith)

17 abril há 11 anos

O grande iceberg seguia sempre para o sul, levando seu inverno letal a terras onde o sol de verão passava alto. E Evagh mantinha-se em silêncio, seguindo de todas as formas o costume de Dooni e Ux Loddhan e dos outros. Em intervalos regulados pelo movimento das estrelas circumpolares os oito magos subiam à alta câmara em que habitava perpetuamente Rlim Shaikorth, meio enrolado em seu divã de gelo. Lá, em um ritual cujas cadências correspondiam à queda das lágrimas em forma de olhos que […]

Seja o primeiro a comentar

Por Causa do Mau Tempo

16 abril há 11 anos

Fechou-se o céu e eu me sentei para lembrar, ouvindo a água calma pipocando impulsos grossos no papel surdo que esqueci debaixo da goteira. Em algum lugar Jacinto se despede, insípido como consegue, e Fabiana está em casa retocando unhas e atormentando os pelos. Todos esperam que esteja um dia lindo quando o sol cantar nos galhos e as asas dos anjinhos ruflarem pela igreja, assustadas com o arrastar arrítimico do zelo apressado. Amanhã se casarão depois de dar-se as mãos por tanto tempo que […]

1 comentário

Dicas de Escrita, ou: Porque Escrevo Tão Mal

13 abril há 11 anos

Escritores escrevem e há uma variedade de gêneros possíveis para a satisfação de todas as categorias de pessoas dadas à gra­for­reia. Versos costumam ser o começo de muita gente, embora hoje tenham perdido parte de sua popularidade para a microficção. A ficção pre­domina, por combinar a atração dos best-sellers com a possibi­lidade de extravasar a criatividade, ou seja, essa capacidade que o jovem tem de reescrever as histórias que leu nos livros ou viu nos filmes. Só com o tempo o autor se revela, a maioria nunca. Daí quem começou poeta pode terminar escrevendo ficção comercial, quem começou escrevendo pornografia pode terminar filósofo. A maioria termina não escrevendo mais.[…]

1 comentário

Phantasmagoria

12 abril há 11 anos

Guilherme construíra a sua casa sobre as ruínas desconhecidas que ocupavam um excelente terreno urbano. Doze trabalhadores com suas máquinas removeram os restos, arrancaram os arbustos e aplainaram cada metro de chão. A construção teve percalços porque havia quem achasse certa importância histórica no lugar, mas não foi longe a questão: a casa estava esquecida, parecia impossível de recuperar e tinha uma fama de assombrada.

Seja o primeiro a comentar

Tradução: A Vinda do Verme Branco, 4 (C. A. Smith)

10 abril há 11 anos

Ao ver tal entidade a pulsação de Evagh se deteve por um instante, tal o terror e logo a seguir do terror as suas entranhas se revoltaram dentro dele, tal o excesso de nojo. Em todo o mundo nada havia que pudesse ser comparado à asquerosidade de Rlim Shaikorth. De alguma forma ele tinha a semelhança de um gordo verme branco, mas seu volume era maior que o de um elefante-marinho. Sua cauda espiralada era tão grossa quanto as dobras medianas de seu corpo e […]

Seja o primeiro a comentar

O Barco de Milhões de Anos

7 abril há 11 anos

“Não vamos às estrelas, baby” — assim começou o discurso do capitão. “Em vez disso, vamos impedir que o inimigo vá.” Os soldados, irrequietos, nada perguntaram. Era bom saber que os capitães e coronéis sabiam o que fazer. Pena que não soubessem. “Ordinário, marche!” E a tropa adentrou o deserto em busca do inimigo impossível, marchando deze­nas de léguas sob o sol cada vez mais forte, até cada um deles cair, de fome e sede ou trucidado em conflitos previsíveis diante do desespero. Na verdade […]

1 comentário

Tradução: A Vinda do Verme Branco, 3 (C. A. Smith)

5 abril há 11 anos

Ele teria fugido da casa, sabendo que sua magia era totalmente ineficaz contra aquilo. Mas compreendeu que a morte estava na exposição direta aos raios do iceberg e que se deixasse a casa ele forçosamente entraria naquela luz fatal. E também compreendeu que ele só, entre os que viviam naquele trecho de lito­ral, tinha sido excluído da morte. Não podia supor a razão de sua exceção, mas concluiu por fim que era melhor permanecer paciente e sem medo, à espera do que lhe devesse acontecer. […]

1 comentário

Não Tenho Mais Medo de Andar na Contramão

4 abril há 11 anos

Compartilharam no Facebook o conselho dado por dois autores americanos (de que nunca ouvi falar) segundo o qual devemos perder o medo de escrever sobre “what we don’t know”. Os demônios da tradução criaram a ambiguidade entre “saber” e “conhecer” e assim surgiu um ótimo tema para debate. Em inglês tal conversa seria impossível, pois os dois verbos se amalgamam em um único. Mas em português há uma rica semântica na oposição deles, e podemos tergiversar sobre o proveito de escrever sobre o que não […]

Seja o primeiro a comentar

Tradução: A Vinda do Verme Branco, 2 (C. A. Smith)

28 março há 11 anos

De volta à sua casa antes da noite, queimou junto a cada porta e janela as resinas que são mais ofensivas aos demônios do norte, e em cada ângulo por onde um espírito pudesse entrar ele situou um de seus familiares para guardar contra a intrusão. Depois, enquanto Ratha e Ahilidis dormiam, ele pesquisou com cuidado diligente nos escritos de Pnom, nos quais estão coletados muitos exorcismos poderosos. Mas o tempo todo, enquanto lia para seu conforto os velhos autógrafos, ele se lembrava melancolicamente dos […]

Seja o primeiro a comentar