23
janeiro
há 12 anos
Segundo me contou o meu amigo, também escritor, Emerson Teixeira Cardoso, ele trocou correspondência com Eugene Ionescu quando era jovem. Ao ouvir isso, fiquei excitado e lhe perguntei que grandes revelações o mestre do absurdo lhe fizera, pois ele e alguns amigos tinham justamente um grupo de teatro amador em nossa Cataguases natal, na época da suposta correspondência.
22
janeiro
há 12 anos
Por que fazer literatura? Não há resposta bastante abrangente que resuma a experiência de escrever. A obra é um orgasmo — alguém já disse — mas orgasmo é um instante fugidio, é como tentar tocar o intangível e, após tê-lo vislumbrado muito perto, quedar esvaziado. Por que, então, amamos? Igualmente não há resposta. Todos se sentem tristes após o sexo, o orgasmo é um vazio que nos preenche inteiramente. Nem para o amor e nem para a literatura podemos encontrar uma explicação racional. A não […]
20
janeiro
há 12 anos
Há momentos na vida em que nos surpreendo com coisas simples, quase a ponto de algum “suor dos olhos” me embaçar a visão. Sou do tipo emotivo a ponto de não gostar de filmes de guerra para não ver carnificina, mesmo que fictícia, e costumo achar finais felizes para meus personagens. Quão mais emotivo não sou quando me deparo com pedaços de minha própria memória recuperados por pessoas com quem interagi!
13
janeiro
há 12 anos
O prédio das repartições municipais era bonito, histórico, razoavelmente bem depredado e detestável. Entrei pela porta de madeira bruta, entalhada a machado, em busca do departamento de arrecadação do imposto predial e territorial urbano, onde deveria tentar obter, pela quarta vez em trinta dias, uma certidão negativa que me habilitasse a hipotecar a minha própria casa para poder custear o tratamento da doença terminal de minha mulher. Um dia falarei sobre isso, sobre a obrigação que temos de dilapidar o futuro dos filhos para fingir que tratamos da morte inevitável dos vivos, tudo porque a sociedade nos culpará se sobrarmos razoavelmente ricos depois de uma desgraça na família.
5
janeiro
há 12 anos
Uma das afirmativas mais recorrentes nos debates políticos e culturais que ainda ocorrem dentro e fora da internet é justamente que não é possível fazer uma crítica qualificada de um autor cujo trabalho não conhecemos o suficiente. À primeira vista é uma posição inatacável, mas eu não gosto de posições inatacáveis em um debate, a menos que elas sejam fundamentadas em fatos. Inatacável é a realidade. Argumentos são apenas argumentos. Ao longo da vida tenho tido a oportunidade de verificar que argumentos inatacáveis nada mais são do que argumentos revestidos de respeitabilidade para ocultar suas fraturas lógicas.
20
dezembro
há 12 anos
O vazio da existência exige que vivamos coisas grandes, posto que não somos grandes. Cada geração padece da crença de que o mundo está decadente e deseja viver tempos interessantes. Isso talvez seja uma explicação para a vontade que tanta gente tem de ver acabar-se o mundo, ou então é só um pretexto para eu postar alguma coisa hoje e atrair algum tráfego…
19
dezembro
há 12 anos
Na “praça de alimentação” de um grande shopping em uma cidade razoavelmente grande as pessoas, de vários tamanhos e cores, se amontoam em torno de mesas e competem pela atenção dos garçons. Termino de comer um sanduíche, sem me sentar e vou saindo daquela aglomeração opressiva quando percebo um diálogo divertido acontecendo numa das mesas. Aparentemente uma moça pedira licença a um desconhecido para se sentar em sua mesa, e ele aproveitara a oportunidade para apresentar-se e tentar alguma coisa.
18
dezembro
há 12 anos
Frequentemente me pego repetindo em cochicho o que acabei de dizer em voz alta, se a pessoa a quem disse não continua por perto. Porque se ela estiver, então, costumo dizer a mesma coisa duas vezes, com poucos minutos de intervalo, para enfatizar o que estou dizendo. Geralmente uso uma frase para conectar, e então repito o que havia dito antes, com palavras ligeiramente diferentes, com poucos minutos de intervalo, só para enfatizar o que dizia.
15
dezembro
há 12 anos
O homem triste vinha caminhando pela rua, com seu pesado terno de dois mil reais ao mês e sua lista de responsabilidades para penar. Consultava mentalmente em qual próxima casa teria de incomodar quando ouviu as crianças sentadas na calçada, curtindo o vento fresco do fim de tarde:
3
dezembro
há 12 anos
Estas montanhas têm uma história, desde os tempos dos índios, desde antes do primeiro português cortar a primeira árvore. Eles vieram, viveram, morreram, viram o mal que havia e se foram, ficaram apenas alguns pobres puris isolados, entocados quase como bichos. Vieram os emboabas a caminho das minas, tentaram fixar-se aqui, mas não ficou nenhuma vila, queimaram todas as casas, sumiram no tempo como se nunca tivessem pousado, e a estrada real passou ao largo.