17
agosto
há 13 anos
Ontem meu amigo Ronaldo Brito Roque, uma dessas inexplicáveis criaturas de Cataguases, brindou aos seus seletos leitores com um texto que realmente é destes que me dá vontade de ter escrito. Tenho isso, às vezes: leio alguma coisa e penso comigo que eu precisava ter sido o autor daquilo. O texto em questão é um delicioso conto sobre um restaurante que só serve três pratos; intitulados “o melhor”, “o médio” e “o pior”; e as reações dos fregueses a tal estranho cardápio. Nas mãos de […]
15
agosto
há 13 anos
Um conto pessimista escrito em 2003, em homenagem a um melhor amigo real, que não quebrou um braço, mas disse algumas das coisas que o personagem expressa. O meu melhor amigo voltou das férias ontem com um braço quebrado. Ninguém ainda parece haver notado nada de estranho nisso, como se férias normalmente quebrassem ossos. Mas eu não me contenho de perguntar por que motivo alguém voltaria do litoral com um membro na tipóia. Nada porém que me leve a romper o silêncio que ele, por […]
14
agosto
há 13 anos
Escrever contos é uma atividade das mais prazerosas, se bem que difícil. Para mim especialmente, escrever histórias sempre foi — mais que um mero requinte — um objetivo que eu sentia essencial, um desafio de caráter quase pessoal a que me propus desde que escrevi meu primeiro poema sobre a “Chuva” (1988, perdido). No entanto, foram necessários muitos anos até que minhas primeiras tentativas bem-sucedidas viessem à luz. Esta demora deveu-se, em parte, à minha convicção de que escrever histórias era extremamente difícil e demandava […]
13
agosto
há 13 anos
“Severo Snape” (nome fictício) era proprietário de uma empresa que ia razoavelmente bem. Era, no entanto, dotado de um ego maior do que sua grandeza e de uma insegurança que lhe obrigava a reinar sozinho. Por isso tratava de aproveitar-se do poder de todas as formas, submetendo seus empregados a um regime de intimidação e represálias, cuja principal finalidade era impedir que algum deles se destacasse mais que o proprietário. Era também amante de três funcionárias (e supostamente de um funcionário também). Seus relacionamentos se […]
7
agosto
há 13 anos
Nos encontramos em um bar imaginário, durante uma digressão sonambúlica. Tentei assaltá-lo com uma pergunta, mas ele é refratário a tais abordagens e sempre reverte a tentativa com uma proposição inesperada. Ontem, por exemplo, quando lhe perguntei quem eram as pessoas cujos nomes ele me recomendara conhecer, ele ignorou o que eu dissera e me perguntou se eu tenho escrito. Reconheço que é inútil tentar conduzir a conversa quando se trata dele, então acabei aceitando a pergunta, na esperança de que as dobras do assunto acabassem por esbarrar na resposta do que eu queria descobrir.[…]
3
agosto
há 13 anos
Estava escuro ainda quando Manoel acordou. A cerração ainda recobria as encostas da serra e as estrelas estavam sumidas no meio de tanta umidade no céu. Mas tinha ficado difícil continuar dormindo, e ele não sabia porque. Dentro da barraca o frio não entrava tanto, o saco de dormir isolava bem a umidade, mas de alguma forma ele acordou e foi se sentar, ainda enrolado nos agasalhos que catou da mochila. Acendeu o fogareiro e começou a esquentar água para preparar um café solúvel. Reparou […]
30
julho
há 13 anos
Para autores, em sete lições Não os escreva. Se porventura acabar escrevendo algum, jogue-o fora. Se por razões pessoais não conseguir jogá-lo fora, esconda-o. Se tiver de publicar, não faça de seus amigos os seus fregueses. Amizade e negócios não combinam. Se vender a amigos e eles elogiarem, não peça detalhes. Evite a decepção de descobrir que estão elogiando porque são amigos, mas nem leram. Somente se pedir detalhes (oh, ousadia!) e eles disserem coisas que fazem sentido, suspeite que o livro seja mesmo bom. […]
29
julho
há 13 anos
Não houve julgamento formal. Ficou semanas preso, comendo do péssimo pão e da pior sopa. Bateram-lhe um pouco, mas não excessivamente. Um dia, por fim, puseram-no dentro de uma viatura no fim da madrugada, depois de lhe terem dado uma última sova, e o levaram por uma estrada de terra, solto e aos solavancos dentro do porta malas. A princípio parecera que seria morto em alguma clareira de floresta à beira da estrada, mas não foi o que aconteceu. O carro parou em um cruzamento […]
23
julho
há 13 anos
Retornando hoje de meu breve exílio da internet, relato um feito proporcionado pelo meu isolamento em relação às distrações que existem na Rede: terminei finalmente a leitura de Roadside Picnic (título da tradução americana), um clássico da ficção científica soviética, de autoria dos irmãos Bóris e Arcádio Strugatsky. Aproveito agora para compartilhar com vocês minhas impressões. Inicialmente vou dizer umas breves palavras sobre os autores. São tidos pela crítica especializada como verdadeiros gênios literários incompreendidos, cuja obra não pode ser perfeitamente fruída pelos ocidentais devido […]
18
julho
há 13 anos
Uma semelhança entre a realidade e sonho é que as duas coisas não tem começo. Da mesma forma como não nos recordamos das primeiras cenas de um sonho, tampouco nos recordamos das primerias coisas que vimos, sentimos, cheiramos, bebemos, pensamos. Cada um de nós vive como em um interminável sonho, do qual talvez acordemos um dia bêbados do cansaço da noite. E se morrer em meu sonho, o que acontecerá comigo na invisível cama na qual, calmamente, eu repouso? Eu não sei exatamente quem sou. […]