Esta semana, enquanto discutia a opinião de Paul Rabbit sobre James Joyce, acabei, sei lá como, psicografando Clarice Lispector. Se eu fosse espírita, esse seria um dos momentos em que eu me orgulharia de minha mediunidade. Com a vantagem de que o texto que escrevi expressa, praticamente sem ressalvas o pensamento da autora — muito diferente das psicografias da moda, que em geral tem tanto a ver com a obra do autor espiritual quanto o proverbial ânus com as calças. Refiro-me a esta declaração de […]
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Será que Somos Tão Sofisticados?
Será que somos tão sofisticados assim? A maioria dos autores celebrados por nossa crítica pratica um tipo de prosa quase ilegível, caracterizado pela exploração intensa, quase joyceana, tanto da sintaxe quanto da semântica, aliado a um ângulo narrativo sempre oblíquo e a uma sequência fragmentária. Os autores que praticam uma narrativa mais tradicional não são tão valorizados, não são considerados mais como geniais, mesmo que suas obras exalem competência, como se o seu estilo estivesse ultrapassado, mas o Finnegans Wake já passou de oitenta anos […]
Gente que Leio: Felipe Holloway
Esta semana tive o prazer de ler o mais novo conto deste jovem autor. Como de todas as outras vezes, me restou o queixo caído e uma profunda inveja. Inveja positiva, não essa inveja que tenta apagar o sol alheio que incomoda sua treva pessoal. Tive deixar-lhe um comentário, que aqui reproduzo. Felipe, eu não preciso repetir o que penso de sua obra. Você sabe muito bem que, em certos momentos, eu quase tenho vontade de lhe pedir um autógrafo. Este conto foi um desses […]
Encontrando um Furo no Futuro
Há algumas semanas descobri que o meu amigo Flávio Sousa, pela primeira vez em anos, resolveu abrir um blog e divulgar seus escritos. Para alguém que é vocalista de grupo musical seria natural fazer poesia, mas ele é ficcionista — e dos bons. Pena que seja tão tímido para mostrar suas histórias, e pena ainda maior que escreva tão bissextamente. A descoberta me excitou com a possibilidade de avaliar como anda evoluindo a escrita do meu amigo, por isso lhe mandei um e-mail perguntando-lhe se […]
Como ser um escritor de sucesso em três semanas
O sucesso não é algo que cai do céu, não é algo imponderável, não é um privilégio para escolhidos. Existe uma fórmula para chegar até ele e obter o que você deseja só depende de você. Para isso você precisa seguir os passos de quem já chegou lá, de preferência os de quem está chegando lá atualmente. Aprenda a ser bom, seguindo os melhores. Este texto não pretende ser infalível, mas contém dicas seguras para você que não vê a hora de ter seu livro […]
Como Evitar Livros Ruins
Para autores, em sete lições Não os escreva. Se porventura acabar escrevendo algum, jogue-o fora. Se por razões pessoais não conseguir jogá-lo fora, esconda-o. Se tiver de publicar, não faça de seus amigos os seus fregueses. Amizade e negócios não combinam. Se vender a amigos e eles elogiarem, não peça detalhes. Evite a decepção de descobrir que estão elogiando porque são amigos, mas nem leram. Somente se pedir detalhes (oh, ousadia!) e eles disserem coisas que fazem sentido, suspeite que o livro seja mesmo bom. […]
Três Temas Difíceis
Entre os vários gêneros literários que me atraem existem três que são particularmente de minha preferência: ficção científica, ficção histórica e realismo fantástico. São, porém, três gêneros que eu pouco ouso praticar, devido às inúmeras dificuldades envolvidas em cada um deles. Na ficção científica existe o problema da imaginação: é necessário ser um bom futurólogo, para que sua obra de hoje não se torne um futuro do pretérito dentro de poucos anos, ou logo após a publicação. E futurologia se faz com informação, não com […]
Algumas Palavras Sobre a Obra de William Hope Hodgson
Vocês que acompanham este blog devem ter notado que iniciei um projeto de tradução do romance “The House on the Borderland”, a que intitulei “A Casa no Fim do Mundo” (o título significaria, literalmente, “A Casa Sobre a Fronteira”, mas isto faria pouco sentido para o leitor, razão porque preferi mudar). Como a obra é desconhecida no Brasil (apesar de ter sido escrita no início do século XX e até já estar, inclusive, em domínio público), alguns podem estar perguntando o que motivou a minha […]
Você tem o direito de não gostar de um clássico
É direito de todo mundo gostar dos clássicos e também de detestá-los, desde que você tenha um critério. Detestar os clássicos “em bloco” é ignorância. Mas gostar de um e não de outro é algo perfeitamente natural. Não pretendo desenvolver nenhuma tese de doutorado sobre um paradigma universal de valoração da qualidade intrínseca dos textos literários, apenas disse que ninguém é obrigado a gostar dos clássicos só porque são clássicos, da mesma forma como ninguém é obrigado a gostar dos best-sellers porque vendem muito. Ambas […]
Ficção Científica e Fantasia: Terreno de Alienados?
A literatura de ficção e fantasia que conhecemos descende do exotismo escapista da Europa entre o final do século XVIII e o início do século XX. A grande repressão dos costumes, o caráter ainda muito embrionário da democracia e a difusão de múltiplas e contraditórias teorias pseudocientíficas geraram um terreno propício para que alguns autores vissem na ambientação em lugares exóticos uma maneira de criticar a própria sociedade em que viviam ou então refestelar-se em pornografia ou ideais vanguardistas sem o risco de censura. A […]