Dedicado +Félix MaranganhaConfesso que tive durante muito tempo uma certa resistência preconceituosa contra a tatuagem. Coisa de marinheiros, de presidiários, de maconheiros, de nefelibatas, de mafiosos japoneses que amputam os próprios dedos. Nada que caiba no quadrado perfeito em que inscrevo minhas opiniões. O tempo, porém, foi me educando mais a respeito do tema e eu fui percebendo que há tatuagens e tatuagens… Algumas eu posso apensa desconsiderar, outras são realmente desprezíveis, algumas eu devo temer e a maioria é simplesmente sem sentido.
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O Cenário como Elemento Central da Ficção de Clark Ashton-Smith [1]
Tem-se por inquestionável verdade que a concepção dos personagens é o elemento central da literatura de ficção em qualquer gênero. Sem personagens dotados de credibilidade e de motivações a história, por boa que seja, tende a fluir de uma maneira desconexa, de forma que os acontecimentos não apresentam sequencia lógica. Tanto é assim que não é raro que certos personagens adquiram um relevo cultural muito maior do que o das obras em que apareceram originalmente. Exemplos desse fenômeno são Romeu e Julieta, Hamlet, Cyrano de […]
[Tradução] Após o Armagedom (Clark Ashton Smith)
Deus caminha leve nos jardins de uma estrela escura e fria.[^1] Desconhecendo o pó que se apega às dobras de sua roupa, Deus assinala no barro, marca-o no molde, Andando nos campos noturnos de uma guerra perdida Em uma estrela que há muito esfriou. Deus pisa brilhante onde há ossos de coisas esquecidas, Pálido de esplendor como a geada de uma praia banhada de luar, Deus vê as tumbas à luz de Sua face, Ele treme ao ler as runas lá gravadas, e Sua sombra […]
A Ficção de Clark Ashton Smith
Há momentos na história da literatura em que os veículos mais inusitados dão vazão ao talento de autores competentes, resultando em obras de insuspeita qualidade que, infelizmente, tardam em receber o devido reconhecimento devido ao preconceito motivado justamente pelos veículos em que foram publicadas. Um desses momentos foi o período entre-guerras nos Estados Unidos, quando floresceram revistas mensais de folhetim conhecidas como “pulp fictions”. Impressas em papel barato e vendidas a preço baixo, destinadas à classe operária, não deixaram, por isso, de contar com autores de primeira grandeza porque ofereciam um veículo para a profissionalização de quem desejasse começar na literatura.
A Paisagem com Salgueiros
Original de Clark Ashton-Smith. Traduzido a partir da versão online em Eldritch Dark. A pintura tinha mais de quinhentos anos e o tempo não mudara suas cores, senão para tocá-las com a tenra suavidade das horas antigas, com a morbidez acumulada de coisas passadas. Fora pintada por um grande artista da dinastia Sung, em seda da mais fina trama, e montada em uma moldura de ébano arrematada em prata. Por doze gerações fora uma das mais queridas posses dos antepassados de Shih Liang e igualmente […]
Esquizofrênico Criador
No laboratório privado que a sua profissão de psiquiatra lhe havia possibilitado construir, equipar e manter, o Dr. Carlos Moreno acabara de completar certas preparações que estão pouco de acordo com os ensinamentos da ciência moderna. Porque tais preparações ele as extraíra de velhos grimórios, herdados por ancestrais que haviam incorrido na ira sagrada da Inquisição Espanhola. De acordo com uma lenda familiar bem ofensiva, outros ancestrais contavam entre os Inquisidores.[…]
A Maravilhosa Estória do Senhor Sombra e da Senhorita Raio de Luar
O amor do Senhor Sombra e da Senhora Raio de Luar começara muito complicado, levara décadas em um estado infrutífero, tantálico, até finalmente desembocar naquela manhã de abril, fria e úmida, em que ele se deu conta, pela primeira vez, de que ela sempre amanhecia doente quando faziam amor. Sombra tinha sido um herói antes de desenvolver sua barriga e perder algumas mechas para o tempo. Ela tinha sido uma femme fatale inspiradora de crimes e amores juvenis antes de ganhar estrias, acumular quilos extraordinários […]
O Demônio da Flor
A vegetação do planeta Lophai não é como as plantas e flores da Terra, que crescem pacíficas sob um sol solitário. Enrolando e desenrolando em manhãs duplas, crescendo tumultuosamente sob vastos sóis de verde jade e alaranjado rubi, vibrando se agitando em ricos ocasos, em noites toldadas por auroras; elas parecem campos de serpentes enraizadas que dançam eternamente para uma música sobrenatural.[…]
Visita a uma Livraria do Presente do Indicativo
Ontem me dei conta da falta que faz visitar ocasionalmente uma livraria. Estive brevemente na Leitura “Megastore” em Juiz de Fora e pude compreender muito daquilo que tenho visto e lido na internet. Algumas conclusões foram animadoras, outras terríveis, a maioria apenas remete a uma neutra mudança de padrões, oscilações de modas que não mudam nada. Mudam-se as palavras, mudam-se os estilos, permanece uma falta de sentido que denuncia os tempos perigosos que vivemos.[^1]
Nuvens
O homem triste vinha caminhando pela rua, com seu pesado terno de dois mil reais ao mês e sua lista de responsabilidades para penar. Consultava mentalmente em qual próxima casa teria de incomodar quando ouviu as crianças sentadas na calçada, curtindo o vento fresco do fim de tarde: