A primeira impressão de que eu estava no começo de algo estranho foi quando ouvi um tinir metálico vagamente ritmado. Logo acompanhado por vibrações graves e um zunido agudo que ia e vinha, numa oscilação que me pareceu familiar. Eu caminhava por uma rua estranha, muito ampla, com uma linha férrea à minha esquerda e uma linha de edifícios que, parede a parede, muravam o horizonte. As pessoas ao meu redor se vestiam para um frio moderado e não pareciam ouvir as mesmas sensações musicais […]
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A Fazenda da Serpente, 8
> Parte da série [A Fazenda da Serpente](/lit/2014/10/nova-serie-a-fazenda-da-serpente) As chances não pareciam boas. Demóstenes e seus homens conheciam os arredores e certamente a fuga de Rufino não era a primeira. Mas o tenente não queria se entregar tão fácil, nem deixar tantas boas armas e munições nas mãos daqueles miseráveis. A um aceno Maneco o seguiu, mesmo ainda não entendendo nada, porque adquirira a sabedoria que o medo ensina nessas horas. Correram pelos fundos da casa, mas Rufino sentia nos ossos que seriam cercados. Lembrou […]
Teste de Mineiridade
Entrando na onda dos testes de personalidade que fazem furor no Facebook, concebi o seguinte teste, para apurar o grau de mineiridade (real ou espiritual-metafísica) que está contido em seu corpo. A regra do teste é simples: vá lendo as perguntas e anotando suas respostas. Depois compare com o gabarito e some os seus pontos (nada de automatismos aqui, que isso é frescura de paulista, some na calculadora se não tiver caneta e papel à mão). Pontuação negativa significa que você não só não tem […]
Aventuras do Ogro em Sampa
Depois de semanas anunciando que apareceria no lançamento dos livros da Caligo Editora, vi-me gentilmente forçado pelas circunstâncias a comparecer, superando minha verdadeira paúra de cidade grande. O bugre aqui, como ninguém deve saber, é nativo da roça com orgulho, do tipo que se espanta com o burburinho de Juiz de Fora e que, em outros tempos, ao ouvir o noticiário policial das rádios Record e Globo, jurava diante da mãe que nunca poria os pés em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Mas […]
Técnicas Esquecidas de Escrita
> Em Homenagem a Sérgio Ferrari, do blog [Astromiau](http://astromiau.blogspot.com.br/2014/08/tecnicas-esquecidas-de-escrita.html). ## Dadaísmo Liquefeito Se o romeno Tristan Tzara recortava palavras do jornal para sorteá-las aleatoriamente e assim produzir poesia, o mineiro Walito Girão batia páginas de diários em um liquidificador, bem rapidamente, e depois despejava o emaranhado sobre uma cartolina. Tinha uma grande vantagem sobre o método dadaísta de Tzara, pois não apenas permitia descobrir inusitadas relações entre palavras, como também criava as mais estranhas relações entre letras e sílabas. A obra do extraordinário poeta ficou […]
A Virgem do Sabá
Jovita embalava a menina nos braços e Jerônimo as contemplava, entre embevecido e desconfiado. Lembrou da noite em que a conhecera, não teve receios nem remorsos — sentiu-se, na verdade, cheio de orgulho de ter sido tão homem e recostou na cama, arfando o peito como se os pulmões inflassem dentro de uma estreita gaiola enferrujada e dezenas de navalhas subissem com a respiração. Fechou os olhos, ignorou o cheiro dos remédios e dos chás, e sentiu-se de novo na noite da Serra dos Caramonos.[…]
Aventuras em Rio das Ostras, Parte III
Depois de apenas um dia e meio de praia, a segunda feira amanheceu vestida de um som tão lindo que dava vontade de xingar, pois não tínhamos mais roupa limpa — e nem onde lavar. Como não queríamos comprar roupas novas para cada novo dia, e também porque a semana era a última das férias, com muita pendência ainda a resolver, pusemos as bagagens na mala e pegamos a estrada.
Aventuras em Rio das Ostras, Parte II
Depois de chegar ao hotel com oito horas de viagem nas costas, ninguém queria mais saber de praia. Ainda bem, porque estava chovendo pacas. Descarregamos o mais rápido que pudemos e fomos nos adaptar ao quarto.
Aventuras em Rio das Ostras, Parte I
Só hoje, passadas já algumas semanas de minha única viagem de turismo nas férias, é que consegui reunir tempo e inspiração para narrar a verdadeira Odisseia que vivi, só que levando minha Penélope junto. Foi uma viagem dessas que você faz do jeito que não se deve fazer, e houve tanta coisa inesperada que eu quase me surpreendi de ter conseguido voltar inteiro para casa, trazendo a família e o carro.
Instituições Policiais na Província de Minas Gerais no Segundo Império
O amigo leitor que se pergunta o porquê dessa postagem saiba que se trata de uma descoberta notável, que me salvou do ostracismo um dos melhores contos (quase uma noveleta) que eu jamais escrevi. Terminada a história, maravilhosamente ambientada nos “sertões do leste” de Minas Gerais, em um momento indefinido do Segundo Império (vários elementos na história indicam que se trata de um contexto pós-regencial), eis que me dei conta de um imperdoável e imenso anacronismo: o desfecho da história só fazia sentido mediante a […]