Texto apresentado ao Desafio Entre Contos “Folclore Brasileiro”. Hoje vocês me dizem que eu estou em segurança e tudo parece ter sido um sonho. Assim me dizem sempre que essas coisas acontecem. Hoje está tranquilo, madrinha, mas não quero visitas, estou doente ainda, quero remédios e não quem me teste a paciência e diga que estou corado e bonito. Para essas coisas tive a minha mãe, que Deus a tenha. Agora quero é a misericórdia de Deus e tentar parar com esses sumiços. Disseram-me que […]
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Chega de Histórias Machistas
Estamos em pleno século XXI e certas modas parecem não desaparecer de jeito nenhum, o machismo sendo uma delas. Mesmo na literatura, onde supostamente deveria imperar um tipo de artista mais crítico e mais hábil no manuseio de abstratos, o machismo segue dando as cartas. A Jornada do Herói e o Machismo Uma das formas pelas quais ocorre a perpetuação do machismo na literatura é a adoção servil da “Jornada do Herói” como um modelo padrão para toda história. Acontece que este é um modelo […]
“Riding the Lightning”
A primeira impressão de que eu estava no começo de algo estranho foi quando ouvi um tinir metálico vagamente ritmado. Logo acompanhado por vibrações graves e um zunido agudo que ia e vinha, numa oscilação que me pareceu familiar. Eu caminhava por uma rua estranha, muito ampla, com uma linha férrea à minha esquerda e uma linha de edifícios que, parede a parede, muravam o horizonte. As pessoas ao meu redor se vestiam para um frio moderado e não pareciam ouvir as mesmas sensações musicais […]
O Ano do Gato
> Minha última participação no desafio EntreContos (aqui repostado com algumas correções de erros percebidos após a inscrição). O tema do mês era “histórias baseadas em música” e eu o ataquei utilizando como base para um conto a letra de “Year of the Cat”, sucesso de Al Stewart em 1975. Fiz isso porque a letra, em si, já continha o embrião de uma história. > Não é um texto de que eu particularmente me orgulhe (e eu nunca o antologizarei porque tenho sérias dúvidas sobre […]
A Perdição do Homem (Beatrix e Jeannelynne)
“Ó amiga e companheira da noite, ó tu que te regozijas no ladrar dos cães e no sangue derramado, que perambulas por entre as sombras entre as tumbas e trazes terror aos mortais! Gorgo! Mormo! Lua de mil faces, contempla favoravelmente os nossos sacrifícios”― H. P. Lovecraft (em “O Horror em Red Hook”) A porta se fechou e Beatrix suspirou o temporário alívio da primeira noite. Mas não se recostou para dormir, sabia-o impossível. Como recostar a cabeça em um travesseiro antecipando que o segundo […]
Suzanne, Cara ou Coroa
Acabo de saber pela internet que Suzanne Richthofen, presa há doze anos pela morte de seus pais, escreveu à Juíza de Execuções Penas que lhe autorizou o regime semi-aberto um pedido de adiamento de sua progressão de pena. O simbolismo do ato, em suas circunstâncias específicas, me tornou pensativo. São várias as camadas de perguntas que me apareceram ao julgar, mentalmente, o que pode andar pela cabecinha da moça. Eu quase tenho pena dela, daí me lembro que ela não cometeu um crime qualquer. Então […]
A Virgem do Sabá
Jovita embalava a menina nos braços e Jerônimo as contemplava, entre embevecido e desconfiado. Lembrou da noite em que a conhecera, não teve receios nem remorsos — sentiu-se, na verdade, cheio de orgulho de ter sido tão homem e recostou na cama, arfando o peito como se os pulmões inflassem dentro de uma estreita gaiola enferrujada e dezenas de navalhas subissem com a respiração. Fechou os olhos, ignorou o cheiro dos remédios e dos chás, e sentiu-se de novo na noite da Serra dos Caramonos.[…]
Alguns Não Podem Ser Belos
A beleza é algo fundamentalmente polêmico. Sendo questão de gosto, é impossível definir um padrão que agrade a cada ser humano. Por isso não há unanimidade nem mesmo em relação a obras de arte consagradas (há quem ache a Mona Lisa feia, por exemplo) e o consenso, quando existe, é mais o produto de um condicionamento cultural do que de uma escolha racional. Esta semana tivemos uma prova do quanto o condicionamento cultural amortece o julgamento e, quando contestado, revela cavilosos sentimentos que as pessoas […]
Injustiça Poética
Escutei as sirenes logo abaixo da minha janela e me levantei para ver. Continuava em silêncio a casa do outro lado da rua. Tinha estado assim durante os últimos doze minutos, contados no relógio. O policial apeou da viatura e foi até a porta, que dava diretamente sobre a calçada. Bateu sem educação, conforme a situação exigia. Ninguém respondeu, as luzes continuaram apagadas. — Abra essa porta, ou vamos soprar, soprar… … — O que aconteceu com você, querida? Ela não respondia. Timóteo estapeou-lhe o […]
Desencontro Marcado
Um dos mais antigos contos meus, datado de 2000 ou 2001 e recuperado de um arquivo perdido numa pasta esquecida de um HD que eu nem sabia que tinha mais. Um conto escrito para uma pessoa que nunca mais verei (a moça da banca de jornais é alguém que conheci, há muito tempo, em uma praça que não existe mais, em São João Nepomuceno). Fiz as malas à noite, enquanto todos dormiam, para a definitiva volta para casa. A noite de sexta não fora como […]