Ocorreu-me agora que há muitas coisas que se tornaram maiores nos últimos tempos: a população do mundo, os seios das mulheres famosas, a quantidade de páginas dos best-sellers, o ano letivo, a quantidade de membros de certos partidos. Mas nem todas as coisas que aumentaram de tamanho realmente cresceram. Há uma diferença entre crescer, inflar e inchar. Uma diferença que nem sempre se vê por fora, mas que tem uma importância enorme para se prever o futuro próximo (ou distante) daquilo de que falamos. Crescer […]
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Como Ferir um Vampiro
a bolinha é de papel papel é de madeira de madeira é a estaca que mata o vampiro. mas como na bolinha resta pouco da madeira só causa um mal estar, uma vontade frouxa. a bolinha justiceira kriptonita improvisada bala de prata precisa matou a candidatura.
Carta Aberta aos Autores de Cartas Abertas
Por favor, parem. Cartas abertas não são mais uma maneira de influenciar a opinião pública. Porque quem deveria lê-las não as lê. Obviamente cartas abertas não são escritas para serem lidas por seus destinatários, isto sempre foi óbvio. Mas por filhos, amigos, amantes, parentes. Por pessoas que teriam algum poder de influenciar a decisão dos destinatários. Hoje isto não funciona mais. Mesmo os que saem da escola com belos diplomas na mão perderam o hábito de ler e provavelmente teriam grande dificuldade em ler uma […]
Pensando o Futuro
Dois escribas, preocupados com o futuro, discutiam à sombra de um juncal, à beira do Rio Nilo: — Imhotep, tu que és tão sábio, diga-me: Crês que um dia a arte dos hieróglifos terá sido abandonada? — Merhemptah, querido, temo que sim. Ela está a se perder: não vês que os sacerdotes de classes inferiores já os abreviam e corrompem, que já não se importam mais como antes com a exatidão da semântica, preferindo recorrer aos símbolos fonêmicos? Oh, temo que um dia a expressividade dos hieróglifos […]
Morrer Nunca Esteve Tão na Moda
Aparentemente, os jovens, especificamente os que gostam de escrever, possuem um fascínio pela morte digno de nota. Nove em dez jovens autores já escreveram algum texto contemplando a ideia do suicídio (eu mesmo fiz isso nos meus vinte anos), dez em dez fizeram da morte de alguém (real ou imaginário) o tema de algum texto que julgam significativo. Nada disso é novo, no entanto: morrer sempre foi fashion. Nos tempos românticos de antanho, quando as pessoas ainda levavam literatura a sério e a palavra “antanho” […]
O Charuto de Freud
E disse Freud à multidão de seus discípulos: — Não percebeis que o hábito de fumar é uma sublimação? O homem que fuma nada mais faz do que compensar sua libido adulta por uma frustração sofrida durante a fase oral de seu desenvolvimento psíquico! A personalidade do adulto é influenciada pelo que viveu enquanto menino. Um fariseu junguiano infiltrado entre os discípulos o interpelou: — Mestre, o senhor fuma! Sofrestes também uma frustração em vossa fase oral de desenvolvimento? E disse Freud a esse fariseu: […]
Ghost Writers in the Sky
Judah Stevens ganhou os primeiros trocados escrevendo discursos para políticos e anúncios de xaropadas curativas no jornaleco local. Tinha sido bom em redação na escola e por isso o haviam recomendado a um cargo na Prefeitura, por influência de sua família relativamente influente. Com o tempo tornou-se o braço direito de ambos os partidos. Na calada da noite, como vampiros, homens de terno o procuravam com encomendas ilegais: “queremos discurso contra a privatização da rodovia”. No dia seguinte outros homens, de ternos iguais e voz […]
Alguém Vai Revisar Para Mim
Esse negócio de gramática e ortografia é pedantismo, eu sou escritor, não sou professor de portugues. Se eu comete um erro aqui ou alí, não tem probelma porque auguém vai revisa para mim. Sempre tem alguém para corrijir e vc ficar perdento tempo concertando pekenos erros que comete escreveno te distrai do mais immportante que é faze a históira avança. Não que eu esteja planjeado escreve um livro de oitocentas paginas, não. Meu negócio são mini0contos, mas mesmo em duas páginas de texto dá muito […]
Literatura Transistorizada
Num mundo em que tamanho é documento (carrão, peitão, sonzão, pancadão, etc.) é paradoxal que em relação à cultura se valorize o oposto (mini-conto, mini-poema, noveleta, músicas de dois ou três minutos, etc.). Dizem que é porque as pessoas hoje “não têm mais tempo” para ler, para ouvir música, enfim, para fazer coisas que não sejam sexo nem necessidades básicas. A moda hoje é a literatura transistorizada: se você pode fazer menor, então isso quer dizer que é melhor. Só que arte não é eletrônica […]
Murdinta Robotoj
Estamos em um futuro não muito distante (dez, quinze anos) em uma metrópole sul-americana qualquer. Temos um personagem, vamos chamá-lo por num nome simples, bonito e português: Téo. Nosso personagem trabalha para um serviço secreto da polícia, a que, por falta de nome melhor, chamaremos simplesmente de “P-2”. Sua atual missão é localizar e eliminar quem for o responsável por uma série de brutais assassinatos de empresários e políticos corruptíssimos, mas fedidos de tão ricos (a “P-2” não prende, ela é a “briga de gangues” […]