Este blog surgiu em 2010, quando eu fui expulso de algumas comunidades de escritores na rede social da época, o Orkut. Até então eu era cético em relação à utilidade dos blogs para escritores como eu, baseados no interior, devido à dificuldade de obter relevância e atingir um público amplo.
De fato, eu imaginava que as redes sociais funcionariam melhor que os blogs para construir pontes até meus leitores e potenciais editores. Afinal, nas redes sociais havia interação horizontal, enquanto os blogueiros escreviam para um público imaginário, que raramente interagia.
Minha expectativa era de chamar a atenção antes de começar a publicar na internet. Infelizmente, a súbita expulsão daquelas comunidades me trouxe muito desânimo, quando percebi quão precário era o laço que se criava ali e que podia ser cortado inapelavelmente pela decisão autocrática de um moderador, se ele cismasse comigo. Ao me ver jogado fora das comunidades de escritores, concluí que não teria sido tão mau escrever um blog para leitores imaginários, porque, em última análise, eu tinha pelo menos a garantia de que meu conteúdo e seu histórico sobreviveriam, não poderia ser deletado por um ato arbitrário de alguém que não fosse com a minha cara.
Antes disso, no começo de 2010, eu já tinha começado a escrever em um blog hospedado no <www.blogspot.com> uma série de artigos sobre o uso de software livre para autopublicação. Esse blog recebera o nome despretensioso de “Letras Elétricas” (título de um poema que eu escrevera anos antes). Antes eu até mantinha um site, intitulado “Mundos & Fundos”, criado em PmWiki, mas havia realmente pouco conteúdo ali — e muito dele nem era original.
Em junho de 2010 eu decidi transformar o “Letras Elétricas” em um blog sobre “Linux, Literatura e Rock Progressivo”. Importei, então, o conteúdo do “Mundos & Fundos” (pouco depois eu o deletei) e comecei a repostar alguns textos que eu tinha escrito para comunidades do Orkut. Infelizmente, muito conteúdo que produzi naquela época ficou perdido, especialmente conteúdo da comunidade “Novos Escritores do Brasil”. O que pude recuperar, ou que amigos meus tinham copiado e tiveram a gentileza de me enviar, eu coloquei no “Letras Elétricas” até novembro de 2010. Isso incluiu uma quantidade de textos de ficção, que você encontrará entre agosto e outubro, à razão de quatro ou cinco por semana. A partir do início de 2011 o blog se estabilizou e passou a ter conteúdo novo.
Mais ou menos nessa época começaram os casos de blogs deletados por denúncias contra o conteúdo. Embora eu não escrevesse conteúdos controversos, isso me incomodou bastante, afinal, “controverso” não é aquilo que eu interpreto assim, mas o que alguém encara de outra maneira. Nenhum autor consegue evitar de algum dia ofender alguém, e as consequências, no mundo, assim como no Brasil, dependem mais do poder do ofendido do que da justiça de sua interpretação. Uma coisa é ofender pessoas físicas indefesas, como certos “humoristas” brasileiros fizeram carreira, outra, bem diversa, é ofender um milionário ou uma grande corporação. Esses têm o poder de convencer as grandes corporações que administram os grandes serviços de internet e as redes sociais.
Você encontrará nessa época muitos textos meus sobre esses eventos e meus receios, como “Autocensura Prévia”, “Letras Elétricas Somem No Ar” e “Carta Aberta ao Senhor Motorista do Tanque”. Por causa disso eu comecei a procurar jeitos de fugir da hospedagem no Blogspot. Entre 2012 e 2013, contratei um serviço particular de hospedagem e instalei um blog usando um software chamado Habari, que já não existe mais. Esta primeira encarnação do blog fracassou bem rápido porque o Habari não tinha condições de hospedar um conteúdo tão grande quanto o que eu já tinha acumulado (na época já eram mais de quatrocentos posts) e nem oferecia segurança contra spam. Nos últimos dias em que o utilizei, cheguei a receber 700 mensagens de spam em um único dia. De positivo, foi através do Habari que tomei conhecimento da linguagem Markdown, que se tornaria, posteriormente, a principal ferramenta de trabalho no desenvolvimento do meu blog.
Diante disso me vi forçado a instalar o Wordpress e estive com ele desde 23 de novembro de 2013 até o começo desse ano. Minha instalação começou com a versão 3.6 e chegou à versão 5.6, totalizando 22 atualizações de versões, além de algumas menores com correções de bugs. Talvez tenha sido uma das instalações de Wordpress mais longevas de todos os tempos. No entanto, tudo que é bom um dia… ou melhor, tudo que é ruim um dia fica insuportável e nos força a “chutar o balde”. [Chutei o balde] (/posts/2021-04-07-nova-versao-do-blog-adeus-wordpress.html), ao ver que o blog estava muito lento e apresentava erro 504 ao carregar a página.
Ao me dar conta do impacto negativo que isto trazia, decidi migrar, porque se tivesse que refazer toda a instalação do blog, como me sugeria meu serviço de hospedagem e como era recomendado por vários usuários que haviam mantido blogs por muito tempo, então não valia a pena utilizar novamente o Wordpress, sabendo que teria o mesmo problema outra vez, no futuro. Reinstalar o Wordpress porque o próprio Wordpress tinha se tornado ingerenciável é o tipo de coisa que só faz sentido se você foi usuário de Windows nos anos 1990 e achava natural ter que formatar e reinstalar seu computador a cada sete ou oito meses porque o sistema acumulava bugs e instabilidades.
Busquei várias alternativas e acabei decindo escrever eu mesmo a minha ferramenta de compilação, transformando o blog em um site estático escrito em Markdown e compilado com o Pandoc, seguindo a ideia proposta por um belga chamado Jilles van Gurp.
Este blog é o resultado final.