Num mundo em que tamanho é documento (carrão, peitão, sonzão, pancadão, etc.) é paradoxal que em relação à cultura se valorize o oposto (mini-conto, mini-poema, noveleta, músicas de dois ou três minutos, etc.).
Dizem que é porque as pessoas hoje “não têm mais tempo” para ler, para ouvir música, enfim, para fazer coisas que não sejam sexo nem necessidades básicas.
A moda hoje é a literatura transistorizada: se você pode fazer menor, então isso quer dizer que é melhor. Só que arte não é eletrônica e nem sempre menos é mais. Aliás, geralmente menos é menos mesmo em tudo: a miniaturização do computador não é feita pela diminuição da complexidade, mas pelo refinamento da estrutura. O melhor paralelo da evolução seria um livro em papel-bíblia e fonte tamanho 7.
Mas os que amam o pequeno acham que se podem fazer um tecladinho miniatura de vinte centímetros, fizeram “um piano moderno”. Mais que isso: criticam o piano antigo para que as pessoas assimilem a ideia de que o moderno é melhor. Não se menciona o som chocho e pasteurizado do tecladinho “Made in China” em comparação com a voz potente do pianão Fritz Dobbert, mas se ressalta o fato de que “hoje em dia ninguém mais tem tempo para aprender piano”, “piano ocupa muito espaço”, “faz barulho de noite” etc.
Lamento a todos que gostam do tecladinho, mas nada se compara ao velho pianão de cauda. A diferença é a mesma entre uma mulher de verdade e uma mulher inflável. Por mais que a mulher de verdade tenha personalidade e uma TPM, não dá para se satisfazer com a versão moderna.