Texto satírico escrito com a finalidade de demonstrar como fica ridículo salpicar seu texto com palavras estrangeiras, sejam elas de que língua forem.
Fjálar saiu de casa em Reykjavík em outro dia cinzento, apesar da aproximação do verão. Já sabia que Oláfur não apareceria para trabalhar e teria de, mais uma vez, cumprir as tarefas dos dois. O maldito beberrão estaria certamente em casa com uma terrível dor de cabeça depois de outra noite de apostas e de envolvimentos suspeitos em alguma espelunca do porto. Recebera uma mensagem no telefone, algo bem simples: “Takk, vinur. Não vou trabalhar hoje, estou em algo grande.”
Todos no departamento de polícia sabiam que Oláfur estava perigosamente próximo do alcoolismo, mas ninguém ainda havia questionado isso porque ele sempre voltava de suas noitadas com informações preciosas sobre contrabandistas, espionagem e crimes ocultos. Algum dia talvez Fjálar tivesse pena do colega, mas naquela terça feira especialmente não. Era outro dia para amaldiçoá-lo. “Algo grande” poderia ser uma investigação ou os peitos de uma prostituta mexicana. Ou poderia ser esquiar no Vatnajokull com uma sueca solitária, amante de um mafioso russo.
Distraído com suas reclamações, nem notou as luzes que piscavam na esquina até a sirene, acionada quando passava, o assustou.
— Skít, Asgeir. Vai assustar a mãe!
— Góðan daginn, Fjálar. Você ia passando sem me ver, te chamei a atenção. Entra aí.
Já dentro do carro, recebeu do patrulheiro um envelope pardo:
— Notícias quentes.
— Aqui na Islândia?
Abriu o envelope e viu um cadáver. Um senhor grisalho (embora na Islândia isso seja quase imperceptível) com a cabeça destroçada por um disparo de carabina.
— Onde foi isso?
— Grafarvogur.
— Nei! Em Grafarvogur não!
— Já. E você não nota algo familiar?
— Difícil, o resultado do disparo foi bastante “dispersivo”…
— Identificaram pelas digitais. Gunnar Davíðsson.
— Qual Gunnar Davíðsson? “Aquele” Gunnar Davíðsson?
— Ele mesmo.
Fjálar sentiu o estômago embrulhando.
— Vamos tomar um café, Asgeir?
— Nei, Fjálar. O chefe mandou eu te buscar e levar à casa do velho antes das oito.
— Temos uma hora, Asgeir. Vinsamlegast! Não vou conseguir comer depois!
— Certo. Mas vamos num bar lá perto, para o caso de algo sair errado. Quando entraram em Grafarvogur havia dois carros de polícia bloqueando a entrada de uma rua. Dois carros de polícia significavam encrenca. Ainda mais porque chegava o terceiro, levando-os.
— Maldito, Asgeir. Não vamos tomar nenhum café.
— Ordens são ordens, Fjálar.
Os dois atravessaram a barreira e se dirigiram à casa do velho Gunnar, um dos mais idosos e respeitados membros do Alþingi. Tomaram ar para criar coragem e preparavam-se para para entrar quando ouviu-se um tiro.
Segundos depois uma mulher saiu de uma casa e veio correndo em direção a eles e gritando: Náið í lögregluna! Náið í lögregluna!
— Calma, senhora — disse Asgeir — nós somos a polícia.
A mulher desfez-se em prantos contando que seu marido estava morto, aparentemente acidente ao limpar sua arma de tiro esportivo. Fjálar e Asgeir se entreolharam. Grafarvogur estava um lugar agitado naquele dia. Agitado demais para um país tão pequeno. O marido daquela senhora não era qualquer um, era nada menos que o Forseti Lýðveldiðs. Aquela não era uma morte como qualquer outra, ainda que qualquer assassinato já fosse uma comoção no pequeno país.
— Não estou entendendo nada, Asgeir.
— Pois bem, amigo, você dormiu tranquilamente esta noite mas o país esteve em tumulto enquanto isso. Desde ontem às 22h00 nada menos que 12 pessoas cometeram suicídio, só na capital. Todas com tiros de carabina na boca.
— Skít. Que coisa maluca. Nunca se viu isso na Islândia!
— Muito menos atingindo dois políticos tão importantes.
Ao entrar ouviram ao longe outro tiro.
— Será um dia movimentado, Fjálar…
— Acho que sim, vinur. Vamos entrar logo nessa casa e fazer nosso trabalho.
Lá dentro, em prantos, estava Oláfur.
— Faðir! Faðir!
Fjálar levou a mão à testa:
— Oh, como nunca pensei nisso. Oláfur Gunnarsson.
– Continua –