Começa outra semana. Ando tendo ultimamente pesadelos de não conseguir mais fazer nada interessante na vida. Meu dia foi marcado por um torcicolo, cólicas renais e uma ânsia de fazer algo que eu não sei muito bem o que.
No século XVI um sujeito que estivesse se sentindo do mesmo modo provavelmente se alistaria em algum navio. Mas o mundo de hoje não tem mais lugar para heroísmos: fica muito caro viajar, pode custar a própria vida.
Assim, apesar da ansiedade de dobrar o horizonte e ver o que há detrás das montanhas, acabo mesmo sentado diante do computador navegando pela internet sem saber o que exatamente estou procurando. Hoje de manhã, por exemplo, eu me dei conta de que tenho amigos por correspondência na Alemanha, mas não tenho podido mais ir ao alto do Morro do Cruzeiro ver a largura do horizonte.
É, asas. Acho que isto é que me falta. Enquanto apenas acho, aproveito a dúvida e vou sonhando que sou escritor. Mas agora vão dar dez horas e tenho de ir dormir. Amanhã é outro dia, minha filhinha vai acordar gripada e chorando e tenho de ir trabalhar. Hoje em dia, heroísmo mesmo é continuar vivendo…
Careta!? Eu!? Acho que sim, ou que não. Minhas vitórias tem sido pequenas, mas pelo menos não me faço de bobo fincando pregos na cara ou pintando o cabelo de cores ridículas. Para quê fazem isso, meu Deus? Pior que ser um careta entediado é ser um bobo alegre que se traveste de rebelde para esconder a inanidade e a irrelevância de si mesmo.
É triste, mas nesse mundo de hoje não há impunidade para ninguém. Mal estamos vivos e isto já nos transforma em criaturas sem porque. Deus deve estar lá em cima rindo de tudo isso, se é que ele existe. Mas, se nós somos tão tolos e provisórios e ainda existimos, por que não ele?