Eu costumava ter gato. Adorava acarinhar aquele bicho, mas ele não tinha muito gosto por afagos. Um dia ele morreu, nem lembro do que, e eu comecei a esquecer.
Nunca mais pude ter gatos. Quando cresci fiquei alérgico e fui viver num apartamento. Passo o dia fora e não tenho quem cuide de bichos para mim e detestaria deixá-los cagando soltos.
Lembro com saudades do bichano, mas tudo que tenho para me consolar são meus livros. Os livros são mais ou menos como gatos. Você pega e fica alisando, mesmo depois de já os conhecer muito bem. Alisar um livro é mais ou menos como alisar um gato, e a alergia é praticamente igual.
Os livros têm a vantagem de não fugirem para acasalar e nem ficam miando no pátio quando estão desesperados por sexo. Aliás, livros não ficam desesperados por sexo e nem precisam ir ao pátio. Mas por outro lado é praticamente impossível que fiquem ordeiros e pacatos nos lugares da estante a que são designados. Parece haver algum tipo de ente sobrenatural que os tira do lugar quando eu não estou olhando.
E essa é a semelhança final que me fez gostar de livros em lugar de gatos.