Letras Elétricas
Textões e ficções sem compromisso
by J. G. Gouvêa Atualizado em 2021-05-05

Mudando de Fase

Publicado em: 14/09/2010

Hoje tomei uma decisão que pretendo seja definitiva: saí do Orkut. Eu já vinha pensando nisso há muito tempo, mas fatores diversos me atrasaram por lá — e não posso dizer que o atraso foi uma perda de tempo total. Só que ultimamente o Orkut tinha se tornado intolerável.

Houve uma diminuição muito forte do nível geral dos participantes entre 2006 e 2009. Muita gente interessante «picou a mula» e o que ficou, em muitos momentos, parecia a «rapa do tacho». Comunidades um dia interessantes se tornaram antros de intolerância, ou desertos de ideias, ou parque de diversões de ignorantes. E as comunidades que já eram assim antes não melhoraram em nada. Participar do Orkut se tornou desagradável. Os donos de comunidades se dividem entre os omissos (ou ausentes) e os ditadores, cheios de projetos pessoais de grandeza e obcecados em proteger o próprio traseiro. Os participantes, regra geral, se tornaram cada vez mais «frescos», cheios de não me toques. Ofendem-se por qualquer crítica, ameaçam chamar a polícia se você os questiona firmemente, enchem-se de ironias estúpidas para tentar desacreditar uma observação apropriada que expõe a sua própria ignorância.

O desfile de desinformação, aliada a total falta de noção dos limites do bom senso, chegou a um ponto em que debater ficou impossível: qualquer imbecil se acha no direito de ter uma interpretação da obra de qualquer autor, mas se você expõe uma contradição recebe de volta a irônica pecha de «sabe-tudo» e faz inimigos. As pessoas começam a ofender você, começam com esse denuncismo otário, intrigas com seus amigos, provocações com seus colegas de trabalho. Cansei disso.

Não há mais como continuar participando do Orkut. Há estupidez demais ali, e eu me tornei mais estúpido nos últimos tempos por causa disso. Estou menos paciente, menos lírico, menos educado. Preciso me desintoxicar da falta de noção que, como um miasma, contamina a maioria das comunidades e impede um debate de qualidade. Orkut não é mais para mim, o tipo de assunto que eu quero é outro. E do mesmo modo como não vou buscar «papo cabeça» no boteco vendo o futebol de domingo (aliás, será que Nietzsche torceria para o Galo se fosse mineiro?); também não vou tentar debater com inteligência no reino dos tolos.

Não que eu me ache um gênio. Longe disso. Mas eu tenho a consciência de algumas coisas que os outros ignoram. E uma dessas coisas de que tenho consciência é que eu busco aquilo que a maioria acha que não existe ou então despreza porque não entende. Eu busco tais coisas sinceramente, não busco apenas o verniz delas para apresentar-me como sábio. Ignoro muito, claro, mas sei o essencial: não falar do que não sei. E sei me calar quando me pilham em erro.

Calo-me agora. Deixo o Orkut para os que me acham um babaca metido a inteligente. Aproveitem minha ausência, porque eu farei ótimo proveito dela.

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