Letras Elétricas
Textões e ficções. Tretas e caretas. Histórias e tramóias.
by J. G. Gouvêa

A Diferença entre Crescer, Inflar e Inchar

Publicado em: 02/11/2010

Ocorreu-me agora que há muitas coisas que se tornaram maiores nos últimos tempos: a população do mundo, os seios das mulheres famosas, a quantidade de páginas dos best-sellers, o ano letivo, a quantidade de membros de certos partidos.

Mas nem todas as coisas que aumentaram de tamanho realmente cresceram. Há uma diferença entre crescer, inflar e inchar. Uma diferença que nem sempre se vê por fora, mas que tem uma importância enorme para se prever o futuro próximo (ou distante) daquilo de que falamos.

Crescer envolve aumento de substância. O seio da mulher cresce quando ela amamenta porque ele passa a ter conteúdo, um livro cresce à medida em que lhe acrescentamos páginas que vale a pena ler, um partido cresce quando ganha afiliados capazes de dar-lhe força.

Mas olhando por fora é comum achar que algo que está maior terá crescido. Sem saber o que há por dentro, o aumento de tamanho pode nos iludir que há algum significado.

Uma coisa infla quando apenas sua forma aumenta, mas por dentro existe um grande vazio de conteúdo. Assim aumentam os peitos das modelos, cheios de próteses de silicone. Assim aumenta a população do mundo, com pessoas que não o tornam um lugar melhor. Assim se tornam maiores os livros da moda, cheios de páginas que nada dizem. Assim aumentam o ano letivo, sem que seja melhor usado o dia letivo.

E uma coisa incha quando se corrompe, quando se enche de putrefação, de inflamação, de perversão da natureza original do que anteriormente era. Um corpo incha com tumores, um partido incha com adesistas, um livro incha quando os acréscimos, em vez de meramente nada dizer, dizem coisas que destroem o valor do resto.

Devemos estar atentos para que o fruto de nosso trabalho cresça, em vez de meramente inflar ou inchar. Algo que cresce pode ser dividido, mas algo que inflou estoura e se perde quando tentamos cortar e algo que inchou, quando tocado, pode expelir um fedorento carnegão que contamina a tudo em volta.

Arquivado em: ensaios