Letras Elétricas
Textões e ficções sem compromisso
by J. G. Gouvêa Atualizado em 2021-05-05

Porque o Projeto da Revista Morreu

Publicado em: 20/11/2010

Aqueles que me acompanham desde os tempos em que eu era coproprietário e moderador da comunidade «Novos Escritores do Brasil» sabem muito bem que eu tinha um projeto de publicar uma revista literária usando o Orkut como ferramenta para localizar autores, organizá-los e formatar um projeto totalmente virtual. Em julho de 2009, inclusive, este projeto frutificou em uma publicação, a revista o verbo (puta nomezinho ruim que eu tive que engolir por causa da minha mania de democracia).

De lá para cá muita água rolou debaixo da ponte (coisas sobre as quais prefiro não comentar) e o projeto da revista definitivamente perdeu o sentido. Em respeito aos autores que eu havia convidado, deixo aqui este comunicado.

Após alguns meses de insistência, finalmente me vejo obrigado a tomar uma decisão que não vai ser agradável, mas que simplesmente é necessária. A revista literária herdeira do “verbo” não vai mais sair. Pelo menos não por uma editora. Abaixo explico as razões disso.

6 – Dificuldade com o conteúdo.

Com a demora em sair a revista, demora esta ocasionada por vários fatores, alguns autores revogaram a autorização para publicar, outros já publicaram seus trabalhos em outros meios, outros não pude mais contatar para confirmar participação. Surgiu então a necessidade de encontrar textos substitutos, mas como eu não estou mais em uma grande comunidade, isto foi difícil. Pior ainda, isto acena com a perspectiva de ser ainda mais difícil encontrar textos para o número dois.

Aparentemente algumas pessoas só se mantinham em contato comigo em razão de meu cargo de coproprietário na NEB. Não as culpo por isso, afinal, apenas considero que esta é uma situação que me coloca em uma posição complicada para conduzir um projeto como a revista.

5 – Falta de tempo.

Ultimamente venho tendo que me dedicar a uma série de atividades profissionais e extra-profissionais que estão ocupando a maior parte de meu tempo e, mais importante, de meu esforço. Seria possível continuar com a revista se eu estivesse coordenando ou participando de uma equipe, mas tudo sozinho não dá para fazer. A falta de tempo se refere não apenas ao tempo gasto para fazer o leiaute e à revisão, mas ao próprio tempo necessário para encontrar e contatar os autores.

4 – Redução do apelo da revista.

Situação decorrente de minha saída da “Novos Escritores do Brasil”, a verdade é que ninguém mais está dando à revista a importância que ela poderia ter se estivesse saindo por meio da NEB. Este é um problema importante porque se a revista não é importante para aqueles que a lerão e/ou que nela deverão sair, deve automaticamente deixar de ser importante para mim. Afinal, não devo investir meu tempo, meu dinheiro e meu prestígio em um projeto do qual os maiores beneficiários são outras pessoas, que não estão envolvidas.

Em parte a redução do apelo da revista não se deve ao fim de minha relação com a NEB, mas a uma percepção muito difundida segundo a qual publicações em papel, especialmente revistas, já não têm a importância que tinham no passado. Contra esse estado de espírito, eu me mostrei impotente.

3 – Impossibilidade de chegar a um acordo satisfatório com uma editora.

Se pelo menos eu tivesse facilidade para chegar a um acordo com uma editora, isso poderia mudar. Infelizmente, houve poucas editoras interessadas e elas fizeram exigências que inviabilizam a publicação. Uma das editoras, descartada desde o início, exigiu que eu contratasse um profissional de design e fizesse o leiaute da revista no InDesign (ou seja, gato). Outra editora aceitou que eu fizesse o leiaute não aceitou colocar logotipo na capa e nem vender através de seu site, apenas intermediar gráfica. Por fim, a terceira editora contatada aceitou vender através do site uma revista feita por mim, mas apenas se eu coordenasse a venda da tiragem inicial, que seria remetida para mim e cobrada de mim. Os contratos também sairiam todos em meu nome.

Nenhuma destas três situações realmente justificaria que eu fizesse a revista através destas editoras. Em todos os três casos eu estaria assumindo um risco alto, da ordem de mais de dois mil reais no primeiro caso e de pelo menos um mil e quinhentos, no segundo. E tudo isso para divulgar uma revista que, como dito acima, seria mais importante para mim do que para os outros.

2 – Competição entre a revista e os meus projetos literários pessoais.

Como decorrência do fator acima, me pareceu claro que, se for para eu investir dinheiro e assumir riscos, é justo que seja para realizar projetos pessoais MEUS, e não uma revista que divulgará principalmente textos alheios. E projeto pessoal é o que mais tenho nesse momento, em que estou com três romances concluídos, dois em fase final e contatos com três editoras (uma delas, a mesma com a qual estive negociando a revista até recentemente, já fez um pré-contrato para publicação de um romance meu, chamado “Praia do Sossego”). Parece-me muito justo que eu priorize a divulgação e edição do MEU trabalho, já que a revista acabou ficando como um projeto pessoal.

1 – Mudança de foco de minha atividade literária.

Como vocês todos devem saber, este último trimestre de 2010 está sendo caracterizado por várias mudanças em minhas prioridades. Abandonei o Orkut, exceto por investidas ocasionais, que estão cada vez mais raras e passei a priorizar o meu blogue e as perspectivas de edição através de concursos e eventos diversos. A revista era um projeto de minha fase orkuteira e reflete projetos e valores desta época. Era o último elo que me prendia ao ‘mundinho azul’ e era também uma das poucas razões pelas quais eu ainda me preocupava com o ‘affair de julho’ na NEB. Desta forma, ao abandonar o projeto, eu estou automaticamente exorcizando de forma definitiva tudo aquilo que aconteceu em julho, virando esta página e seguindo em frente na vida.

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